quarta-feira, março 24, 2004

A mania de apalhaçar Michael Moore

Antes de tudo, tenho a dizer que acho Michael Moore um americano inteligente, perspicaz e dinâmico, alguém que faz uso pleno da sua cidadania, um americano que aproveita o que de melhor existe nos ideais fundadores da democracia americana. Posto isto, quanto à tentativa que existe de uma certa direita de apalhaçar pessoas que têm um estilo político atrevido como Michael Moore ou Daniel Cohn Bendit (que é um eurodeputado muito mais empenhado do que qualquer um dos nossos eurodeputados), eu tenho a dizer que não sou muito sensível a essa adjectivação vinda de alguns comentadores de cara séria e de gravata passada a ferro. Aliás até acho estranho que isso aconteça em Portugal onde a direita nos habituou a um estilo bem atrevido e/ou humorado (e ainda bem) como é o caso do jornal Independente, o Diabo, ou dos cronistas Vasco Graça Moura, Vasco Pulido Valente, Miguel Esteves Cardoso, ou ainda as revistas dos anos 70/80 de graçolas sobre os presidentes Ramalho Eanes e Mário Soares. Por isso deixo a quem tem esse tipo de opiniões a oportunidade de as fundamentar se não a validade delas é quase nula.

O caríssimo JCD dos Jaquinzinhos decidiu comparar Florbela Queiroz a Michael Moore. Bom, eu prefiro comparar Michael Moore aos seus colegas da indústria cinematográfica, por exemplo : Schwarzenegger, governador do Estado da Califórnia, e Ronald Reagan, ex-presidente dos EUA. Para já o nível dos filmes de Moore e dos outros nem se compara. Os prémios cinematográficos que Moore já obteve (óscar para o melhor documentário e o césar para o melhor filme estrangeiro) estão completamente fora do alcance intelectual dos outros dois. Se Michael Moore é uma Florbela Queiroz então o que dizer do ex-presidente Ronald Reagan? Que é uma Bota Botilde? O mais curioso é que já li aqui na blogosfera - vindo dos mesmos que tentam apalhaçar Michael Moore - que Ronald Reagan até já salvou o planeta (terá sido quando apoiou os talibãs no Afeganistão ou quando agravou brutalmente a dependência energética do petróleo dos EUA?). Não estou a querer insinuar que Michael Moore poderia ser presidente dos EUA, apesar dessa conclusão ser tentadora quando se olha para Bush ou para Reagan. Acho que Michael Moore é uma pessoa muito valiosa para os EUA, fazendo o que tem feito, usando a sua perspicácia e acutilância para levantar problemas importantes como a legalidade das milícias populares (proibidas em quase todos os estados de direito), a facilidade com que as crianças e adolescentes podem adquirir armas ou fabricá-las e a tragédia do número de homicídios por ano causados por armas de fogo nos EUA.

Astrologia política
O mimo que o JCD me dedicou sobre astrologia provocou-me um riso bem disposto porque foi bem escolhido. ;) Mas não vejo alguma relação entre Michael Moore e a astrologia, essa «arte» de prever o futuro que o estado português continua a financiar na RTP depois de ter expulsado esses «comunas» do Acontece. O grande sucesso cinematográfico de Michael Moore, Bowling for Columbine, conjuga-se no presente e no passado e não no futuro. O recente livro de Michael Moore «Dude, where’s my country?», aborda basicamente o passado recente dos EUA. Vamos a alguns exemplos das questões que Michael Moore coloca a Bush:

Is it true that the Bin Ladens have had business relations with you and your family off and on for the past 25 years?

What is the «special relationship» between the Bushes and the Saudi royal family?

Why did you allow a private Saudi jet to fly around the US in the days after de September 11 and pick up members of the bin Laden family and then fly them out of the country without a proper investigation by the FBI?

Were you aware that while you were governor of Texas, the Taliban traveled to Texas to meet with your oil and gas company friends?

Tirando o tom familiar inerente ao estilo de Michael Moore, o essencial das suas questões é exactamente o mesmo de todas as pessoas que se manifestaram sobre o facto da administração Bush conseguir a proeza de simultaneamente, ser aliada da Arábia Saudita e chamar criminoso a Saddam. E essas pessoas não pessoas quaisqueres, são agentes e ex-agentes (estes falam mais) da CIA, são filósofos respeitáveis como Bernard-Henry Lévy, o ex-inspector da ONU no Iraque Hans Blix e agora Richard Clarke.
Agora quanto a futurologia deixo aqui duas pérolas. Dick Cheney sobre Saddam:

«absolutely devoted to trying to acquire nuclear weapons. And we believe he has, in fact, reconstituted nuclear weapons», 16 de Março de 2003.

O «we believe» não poderia ser mais «científico» à boa moda da astrologia.

Colin Powell na ONU perante o mundo:

«We know that Iraq has at least seven of these mobile agent factories»

Mas JCD tem razão em relação à inexistência de comentários na Klepsýdra andamos a guardá-los para a nossa mudança para o weblog.pt.

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