quinta-feira, setembro 23, 2004

Livro de Blix: Armas de Desaparecimento em Massa

Estranhamente, parece que o livro onde Hans Blix relata o processo de inspecções que dirigiu no Iraque ainda não foi traduzido para português.
Li a versão francesa: "Irak, les armes introuvables", Fayard, 2004. É um livro interessantíssimo que aconselho sobretudo a todos aqueles que se fartaram de opinar sobre as armas de destruição em massa. Nem é tanto para verificarem o que erraram, é mais para tentarem escrutinar o pouco em que acertaram. A verdade é que depois de ler o livro de Blix, um livro de argumentação bem fundamentada (método que é considerado um mau hábito aqui na Lusitânia), chega-se à conclusão que bem mais de metade das coisas que se iam dizendo sobre as armas de destruição em massa eram erradas.

Ao longo de todo o livro percebe-se que Blix é uma pessoa que prima por uma honestidade extrema. Durante o processo de inspecções descrito por Blix fica claro que este não cede às pressões dos EUA e do Reino Unido, mas também não alinha na fácil tentação de se tornar num ícone do militantismo anti-guerra. Blix mostra que é um cientista a sério não se afastando nem um milímetro do pragmatismo que o trabalho de inspecções exige.

Mas por detrás desta capa de profissional duro e exigente, Blix revela no seu livro um requintado e irónico sentido de humor que polvilha deliciosamente a sua obra desde a primeira à última página. Querem exemplos? Aqui vai:

- Título do cap. XII: "Après la guerre: les armes de disparition massive".

- Título de sub-capítulo do cap. XII: "La mère de toutes les erreurs"

- "...millions de personnes dans la rue à travers le monde, États-Unis compris. À New York, le défilé passait près de mon immeuble de Manhattan, et je m'étais retrouvé au milieu de la foule en sortant acheter du lait. J'avais même craint un instant d'être reconnu et de me voir hissé sur un camion de manifestants en guise de mascotte."

- "L'ambassadeur de Suède m'offrit une affiche qu'il avait ramassé dans la rue après la manifestation. Elle portait le slogan BLIX-NOT BOMBS! Elle est toujours accroché à mon mur."

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