sexta-feira, outubro 29, 2004

O caso Buttiglione é revelador do nosso atraso

Lendo alguns autores de blogues e colunistas de jornais sobre o caso Buttiglione, alguns deles que até se dizem liberais, deu-me um calafrio na espinha. Percebi fria e definitivamente o quanto este país é javardo, retrógrado e terceiro-mundista. Há ainda um trabalho muito grande a fazer sobre a educação e o mais básico respeito entre os cidadãos. Digam o que disserem, as opiniões políticas do Sr. Buttiglione são indefensáveis em pleno sec. XXI. No sec. XIX ainda poderíamos admitir que pessoas livres, educadas e bem na vida pensassem assim. Mas em 2004, pessoas livres a viver em democracia, com um acesso privilegiado e planetário à cultura, à educação, e à informação defenderem as posições absolutamente medievais do sr. Buttiglione só transmitem uma imagem terceiro-mundista de um radicalismo extremo. Eu gostaria de ver um texto com as opiniões do José Manuel Fernandes do Publico a defender o sr. Buttiglione publicado num jornal da direita Sueca, Britânica ou Holandesa só para ver o que aconteceria. Seria "comido vivo" no mínimo!

Logo a seguir à decisão de Barroso de quarta-feira escrevi aqui um texto sobre o vício argumentativo que anda agora na moda em Portugal de se ser contra o "politicamente correcto". Curiosamente, todos os blogues e artigos de jornais que li onde se defende Buttiglione invocam o sacro-santo argumento de que o Parlamento Europeu foi "politicamente correcto" ao chumbar o sr. Buttiglione (só falta agora dizer que a democracia é "politicamente correcta"). Vão ler esses blogues e artigos e vejam se não tenho razão. Fica assim bem patente a vacuidade da treta de ser contra o "politicamente correcto", é uma espécie de chave universal da argumentação política, serve para tudo e para todos, dos fascistas aos maoistas, um autêntico vício tal como começar todas as frases por "é assim".

Chamo a atenção ainda para dois textos (1, 2) do Filipe Nunes Vicente do Mar Salgado sobre as mães solteiras que são bem reveladores da hipocrisia reinante entre os fundamentalistas do catolicismo romano que representa o sr. Buttiglione e os que o defendem.

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