segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Para onde vai o Bloco?

Alemanha?
Do ponto de vista da sua evolução, dos seus métodos e até da sua ideologia, vejo bem o Bloco como uma formação política muito próxima daquilo que são os Verdes alemães. Até acho que no Parlamento Europeu o Bloco deveria estar no grupo dos Verdes e não no grupo das Esquerdas Unidas que têm para lá muita intolerância à mistura. Se essa for a evolução do Bloco, na mesma direcção dos Verdes alemães, o Bloco pode deixar de ser um partido apenas interessante, para ser um partido interessante e interventivo, capaz de participar de uma forma construtiva na sociedade. Poderá, quando tiver uma representatividade acima dos 10% a 12% participar em coligações governamentais, ocupando ministérios determinados em que o seu contributo poderá marcar a diferença em relação às esquerdas tradicionais, nomeadamente ministérios como os do ambiente, da ciência, dos negócios estrangeiros ou do trabalho e da segurança social. Se esse for o caminho do Bloco, então estarão criadas todas as condições para que se concretizem contributos valiosos e necessários para a política das próximas décadas oriundos de uma esquerda moderna filha do Maio de 68 (pós-moderna), que aprendeu com os erros da velha esquerda, que abandonou o dogmatismo, que se questiona em contínuo e que tem poucas certezas, que é exigente, que é multiculturalista, que é europeísta como poderia ser africanista, que acredita na federação dos povos, que acredita na participação democrática a todos os níveis (bairros, freguesias, regiões, etc.), que é eco-responsável e simultaneamente tecnológica, que é integradora das diferenças e que combate todas as formas de exclusão, que procura a dose equilibrada de feminilidade na política depois de 10 mil anos de governos e de civilização com poucas mulheres, tudo isto sem baixar a fasquia da qualidade de vida dos cidadãos e elevando-a sempre que possível.

Marretas?
Se é para enveredar pelo caminho do Partido dos Dois Velhos Marretas, que só se sente à vontade na oposição, não contem comigo. Na minha opinião isso não é fazer política séria e pior que tudo é dar espaço e futuro à concretização de ideias pouco brilhantes que graçam nos tradicionais governos socialistas e conservadores.

Campo Pequeno?
Felizmente, o crescimento do Bloco tem acontecido quase exclusivamente à custa de pessoas que há muito rejeitaram ou fizeram o luto de ideologias como as que defendeu há 30 anos José Manuel Fernandes, o director do Público, nomeadamente o estalinismo e o maoismo - ideologias essas que só não conseguiram atingir as performances assassinas de Adolf Hitler porque as câmaras de gás já tinham direitos de autor. Para além do mais, grande parte do crescimento actual do BE deve-se a pessoas que nunca tiveram sequer qualquer passado de simpatia política por tais ideologias. Mas, segundo José Manuel Fernandes a direcção do Bloco seria a do Campo Pequeno e disse que até os conhecia, os tais bloquistas que gostariam de fechar uns quantos no Campo Pequeno. Realmente, não admira que José Manuel Fernandes os conheça, afinal em 30 anos conservam-se muitas das boas companhias dos velhos tempos. Só que o Bloco não é isso, nem nada que se pareça. Tal como o PP não é o partido de Adolfo Basílio Horta, nem o PSD é o partido do Marcelo Rebelo de Sousa que afirmou que "o 25 de Abril foi um golpe ilegal, sem legitimidade democrática", nem o PS é o do Mário Soares militante comunista antes da invasão da Hungria. É que se enveredamos por este tipo de argumentação, facilmente estamos a apontar a direcção de todo o espectro partidário para sítios que vão desde o Tarrafal até à Sibéria. É a análise política trauliteira, que tem pouco interesse e alcance, morre depois da traulitada. Morre assim também a teoria do Campo Pequeno...

Sem comentários: