sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Um hino às 35 horas


Os bons resultados económicos da Airbus e a liderança económica e tecnológica do mercado mundial conseguida nos últimos dois anos - apesar do programa de espionagem americano ECHELON ter servido para lesar gravemente a Airbus em favor da Boeing em vários negócios bilionários - são bem demonstrativos do potencial de sistemas em que se priviligia um trabalho com boas condições, bem remunerado, com boa cobertura social e simultaneamente compatível com a qualidade de vida do trabalhador, tudo isto dentro de um consórcio em que empresas privadas e estado trabalham conjuntamente numa rede em que coexistem várias línguas a até dois sistemas monetários diferentes (o euro e a libra). Este é o perfil típico da construção europeia dos nossos tempos e que se pretende expandir e multiplicar. Estamos bem longe do "todos contra todos" de Hobbes. E ainda mais longe do provincianismo de algumas multinacionais que funcionam em pirâmide autistas às diferenças culturais dos países onde se instalam.

Na minha opinião, o pormenor mais delicioso que a construção do Airbus 380 trouxe para a rivalidade com a Boieng é que grande parte da sua construção foi feita por trabalhadores franceses em regime de 35 horas semanais de trabalho. Só por si este pormenor já é aterrador para os gestores da concorrente Boieng, cujos mitos sobre o trabalho ficam à beira da implosão. O pior é que nos últimos anos, vários países europeus têm ultrapassado a produtividade dos EUA e entre esses países temos a França. Por exemplo em 2002, em pleno regime de 35 horas, a França teve uma produtividade de 41.85$/hora e os EUA de 38,83$/hora. Estes resultados desafiam toda a lógica da doutrina dogmática do neo-liberalismo (refiro-me a um liberalismo fundamentalista na componente económica que combina um conservadorismo em todos os outros aspectos da vida). É neste aspecto que o Airbus 380 toma uma dimensão simbólica que vai muito para além do facto de ser um avião, é também o símbolo de que algo de novo está a nascer na Europa. Lá iremos na análise do livro "European Dream" de Jeremy Rifkin, quando tiver tempo para o acabar de ler.

35 horas em Portugal?
Para já sou contra. Antes é necessário resolver graves problemas organizativos e burocráticos no nosso sector público e privado, introduzir novas tecnologias aliadas a boas metodologias de trabalho, só depois estaremos aptos a baixar para as 39, depois 37, 35...

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