segunda-feira, setembro 19, 2005

Continua a asneirada anti-Quioto

Os últimos tempos têm sido duros para os defensores das formas mais radicais de liberalismo económico (mas é liberalismo só na economia, na vida privada é mais o "liberalismo" da Opus Dei). Pois é, os podres que o Katrina deixou à vista são difíceis de justificar. Por exemplo, só alguma angústia explica a invocação do tetra-desmentido Bjørn Lomborg, mais conhecido por Ecologista Céptico, para justificar as asneiras da ideologia neo-liberal que andam a tornar o mundo mais perigoso. Lomborg que foi desacreditado e desmentido pela Danish Ecological Association, pela Scientific American e pelos maiores especialistas mundiais de climatologia numa série de artigos publicados nas revistas Nature e Science, continua a ser recomendado pelo João Miranda como se fosse alguém com alguma credibilidade para se pronunciar sobre o Protocolo de Quioto. A asneirada no Blasfémias (que é um bom blogue) continuou numa série de entradas onde se pode ler esta pérola de João Miranda:

"até os proponentes do Protocolo de Quioto reconhecem que ele tem um efeito mínimo no clima e de qualquer das formas, muitos dos países que o assinaram, não o estão a cumprir. Este comentário do ministro alemão, para além de demonstrar o habitual anti-americanismo de muitos europeus, demonstra também a falta de seriedade dos proponentes do protocolo de Quioto"

O Protocolo de Quioto é um documento que vincula Estados, e não "proponentes", a uma série de acções. Os Estados de países democráticos mudam regularmente de governo e por isso mudam os "proponentes", mas o Protocolo é sempre válido para os Estados. Quer se considere Estados ou "proponentes" é falso que os seus signatários considerem que o Protocolo de Quioto tem um efeito mínimo no clima. Basta ler os documentos que foram publicados durante o último G8 na Escócia, nomeadamente esta crítica bem ilustrativa de Blair (deve ser anti-americano...) aos EUA:

"We were never going to be able at this G8 to resolve the disagreement over Kyoto, nor to renegotiate a set of targets for countries in place of the Kyoto Protocol, that was never going to happen and I have to be very blunt with you about that. But I tell you my fear on climate change, which is why I put this on the G8 agenda. If it is impossible to bring America into the consensus on tackling the issue of climate change, we will never ensure that the huge emerging economies, particularly those of China and India, who are going to consume more energy than any other part of the world, we will never ensure that they are part of a dialogue, and if we cannot have America as part of the dialogue on climate change, and we can't have India and China as part of the dialogue, there is no possibility of us succeeding in resolving this issue."

Portugal, de facto, é um dos países que não cumpre o Protocolo. As entradas do João Miranda são bem ilustrativas das razões que levam ao não cumprimento do Protocolo: em Portugal a ciência não é levada a sério. Isso percebe-se logo na mesma entrada onde lemos:

"Sempre existiram furacões como o Katrina, não está demonstrada nenhuma relação entre furacões e aquecimento global"

Não há rigor quando se afirma "nenhuma". Esta entrada do David Luz na Linha dos Nodos cita três artigos (um na Nature e dois no Journal of Climate) relativos a trabalhos científicos de peso que relacionam os furacões com o aquecimento global.

Ler também: "Blasfémias: Primeira e última" no Quinta do Sargaçal

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