sábado, dezembro 29, 2007

Prazeres de 2007: livros

A obra de Dawkins, pela oportunidade e pelo rigor com que actualiza a reflexão sobre a existência de Deus do ponto de vista científico, é um livro incontornável tanto para ateus como para crentes.
Aqui o comentário Klepsýdra sobre "A Desilusão de Deus de Richard Dawkins.

O "Pacto Ecológico" de Nicolas Hulot é uma obra obrigatória para todos os que se preocupam com os grandes desafios globais: as alterações do clima, a exploração intensiva de recursos naturais, a escassez de água potável, a penúria energética e a biodiversidade.
Aqui o comentário Klepsýdra sobre a obra de Hulot.

sexta-feira, dezembro 28, 2007

Cinco Filmes

Respondendo simultaneamente ao repto do Carlos Araújo Alves e do Filpe Moura aqui vão os meus cinco filmes preferidos:

- As Asas do Desejo de Wim Wenders (1987)
- Underground de Emir Kusturica (1995)
- La Dolce Vita de Federico Fellini (1960)
- Dr. Strangelove de Stanley Kubrick (1964)
- Sol Enganador de Nikita Mikhalkov (1994)

Como é difícil deixá-los de fora, aqui vão as minhas preferências temáticas:
- Abre los Ojos de Alejandro Amenábar (1997): ficção científica
- Funny Games de Michael Haneke (1997): cinema fantástico (ou terror se quiserem)
- Gato Preto, Gato Branco de Emir Kusturica (1998): comédia

Dos filmes escolhidos pelo Filipe e pelo Carlos, Blowup de Antonioni, 1900 de Bertolucci, La Femme d’à Coté de Truffaut e Dancer in the Dark, de Lars von Trier estão entre os meus filmes preferidos.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Prazeres de 2007: o filme

O filme "Conversas com o meu Jardineiro" de Jean Becker, baseado no romance homónimo de Henri Cueco é um grande filme com um pequeno orçamento que conta com as excelentes interpretações de Daniel Auteuil e de Jean-Pierre Darroussin. Ler aqui o comentário Klepcinema a "Conversas com o meu Jardineiro".

O filme de Becker é uma das obras que contribuiu para o melhor ano de sempre do cinema francês, o ano com mais entradas, cuja maior contribuição coube à "Marcha dos Pinguins". O cinema francês continua a financiar o melhor cinema de autor de vários continentes e países, em particular o cinema de autor americano (as obras de David Lynch, por exemplo) grandemente marginalizado pela ditadura mercantilista das produtoras e distribuidoras de Hollywood. Vive la France!

terça-feira, dezembro 25, 2007

Prazeres de 2007: o vinho

A Quinta de La Rosa é uma casa gerida por uma família inglesa instalada nas margens do Douro, talvez na zona mais bonita, junto ao Pinhão.
A Quinta de La Rosa produz vinho do Porto, vinhos brancos e tintos e azeite. O Quinta de La Rosa Tinta Roriz Reserva de 2001 foi o melhor vinho que este vosso escriba teve o prazer de descobrir este ano. O preço ronda os 10 € quando comprado na Quinta.

domingo, dezembro 23, 2007

Schengen: um belo grande passo

Em 2000 atravessei pela primeira a fronteira de Berg entre a Eslováquia e a Áustria, na altura uma fronteira entre o espaço Schengen e a Europa não comunitária. Estudava em França, o meu carro tinha matrícula francesa, a minha namorada era Checa e eu tinha passaporte português. Os guardas austríacos passaram-se com o cocktail de nacionalidades. Mandaram-me logo encostar. A bagageira do carro foi-me passada a pente fino pelo guarda equipado de luvinhas brancas, não fosse ele apanhar peçonha. À minha volta assistia a cenas de humilhação de revistas inteiras de autocarros eslovacos que iam trabalhar para a Áustria, como o faziam todos os dias.

Com a chegada de Schengen à Europa de Leste sinto que foi dado um desses grandes passos que a Europa tanto necessita, que eliminam inúmeras burocracias, gastos e humilhações inúteis nos dias que correm. A próxima vez que passar em Berg, farei um manguito imaginário àquele guarda austríaco de luvinhas brancas em homenagem à Europa da livre circulação.

sexta-feira, dezembro 21, 2007

MobGas: emissões de CO2 no telemóvel

Ontem, ao assistir ao telejornal da RAI Uno tenho uma agradável surpresa. Um investigador português, Tiago Pedrosa, apresenta o programa MobGas que permite a um utilizador de telemóvel controlar a sua contribuição diária para as emissões de gases de efeito de estufa. O trabalho foi desenvolvido no Joint Research Centre de Ispra em Itália em parceria com empresas privadas, cuja implementação foi realizada por uma empresa portuguesa, a MobiComp, uma empresa baseada em Braga.
Um tipo fica cheio de orgulho quando descobre que há compatriotas bem sucedidos nesta áreas.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Acordar em Bolonha

Acordo.

Levanto os estores e contemplo o telhado renascentista do museu cívico medieval, em segundo plano as estátuas da igreja vizinha, projectadas no céu.

A estrada em frente é empedrada, os passos ecoam nas paredes e o barulho das motoretas trepa até ao telhado.

Saio e mergulho nas arcadas de Bolonha,
são 38 km de arcadas só no centro histórico. Aqui o chapéu de chuva é superfulo.

Caminho ao longo da Via Emilia, no sentido contrário ao da Torre Asinelli.
Recentemente, Bolonha foi devolvida às pessoas e aos transportes públicos, o alto da Torre vê-se agora na perfeição, sem smog pelo meio

Espero o autocarro.

Espero...

Chega atrasado,
estamos em Itália...

terça-feira, dezembro 18, 2007

A Administração Bush e o Aquecimento Global

Já não é a questão científica que está em causa. O relatório do IPCC, elaborado com base em publicações científicas com arbitragem pelos pares, atribui a origem do aquecimento global com mais de 90% de certeza à actividade humana. A Administração Bush já não o contesta.

As razões que motivaram o isolamento político dos EUA em Bali são basicamente duas:
1- O histórico da posição dos EUA.
Lembram-se como tudo começou? Segundo os falcões da Casa Branca, o Aquecimento Global era uma invenção dos europeus para a indústria europeia ultrapassar a indústria americana... Verificou-se que esta estratégia negacionista se estatelou ao comprido perante os resultados científicos. Hoje é muito difícil dar o braço a torcer, reconhecer que se errou.
2- A ideologia.
As medidas que serão necessárias implementar no futuro contrariam em larga medida a visão ultraliberal da economia da Administração Bush. O planeta não terá futuro se continuarmos a pensar como no tempo de Locke, Hobbes e Adam Smith. Hoje mais do que nunca sabemos que o planeta é finito e que é impossível a todos os seres humanos viver num nível de abundância, de excesso e de desperdício como se vive nos chamados países ocidentais.

Ana Gomes: Pacheco Pereira e o Iraque

A ler os quatro textos de Ana Gomes "Pacheco Pereira e o Iraque" no Causa Nossa. Muito oportuna a retrospectiva do que escreveu Pacheco Pereira e outros sonharam com um putativo 'admirável Médio Oriente novo' em 2003.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Melhor que um romance

Ler "The Smartest Guys in the Room", livro que descreve o escândalo ENRON, é melhor do que ler um romance. Já tinha visto o filme do mesmo nome, mas o livro é muito melhor. Esqueçam "A Firma" de John Grisham, isso é para pipis, a obra de Bethany McLean e Peter Elkind descreve negociatas a sério, realizadas por homens duros, veteranos de guerra no mundo dos negócios, a linguagem é guerreira: "temos que os matar" ou "aos advogados é dar um tiro na boca para não falhar". Negoceia-se o que se tem e sobretudo o que se não tem. Negoceia-se vazio, o que interessa é dar um nome a um pedaço de papel e depois é só colocá-lo na bolsa e os milhões começam a fluir. Personagens deslumbrados com eles próprios, egos que explodem, narcisismo compulsivo, a história da ENRON é fascinante. O pior é que aquilo tudo aconteceu de facto e continua a acontecer, talvez agora em menor escala, mas é uma parte da realidade do mundo da alta finança.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

A direita do texto do Tiago Mendes

Tentam abafar a coisa, mas o que é certo é que texto "Dizer Basta" do Tiago Mendes mete o dedo na ferida da direita portuguesa. Não é um simples texto dirigido a uma pessoa. A carapuça serviu a muita gente e isso notou-se bem na forma como alguns tentaram minimizar o texto do Tiago. É "chato", mas de uma forma destemida o Tiago lança meia dúzia de questões muito certeiras que ainda fazem da direita portuguesa umas das mais conservadoras e ortodoxas de toda a Europa. Há mais domínios (ambiente, cultura, ciência, etc.) que caracterizam negativamente a nossa direita no panorama das direitas europeias, mas as questões que o Tiago aborda já são suficientemente representativas do problema:

- O catolicismo à portuguesa, centrado na nossa senhora de Fátima, piscando o olho ao desenho inteligente e a todo o tipo de pseudo-catolicismo;
- O cocktail Opus Dei-ultraliberalismo onde a "dimensão social e humana, uma molécula que seja de amor, de compreensão ou de compaixão de inspiração cristã [sic]" estão ausentes;
- A condescendência com o Salazarismo;
- Um racismo velado e muito pobrezinho: é só ler o chorrilho de asneiras e os textos ignorantes que se escreveram sobre as declarações de Watson (cuja reacção foi correcta, pedindo desculpas e sublinhando que as suas declarações não tinham qualquer base científica);
- A perseguição ao "lobby gay". Sobre este assunto há matéria abundante muito mal intencionada. Percebe-se que anda por aí perdido muito tique da Santa Inquisição.

Por mim, estou grato que exista uma direita como a do Tiago Mendes, do Carlos Amorim, do Gabriel Silva do Pedro Lomba, do Vasco Rato, do blogue Mar Salgado, entre outros. Poupa-nos a seca (ser seca é bem pior que ser chato) de discutir sempre o mesmo assunto, assuntos mais do que resolvidos e as mesmas obsessões conservadoras de há mais de 50 anos atrás.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

99 F - O homem é um produto como outro qualquer



"99 Francos" de Jan Kounen, baseado no livro do mesmo nome de Frédéric Beigbeder, é um filme em registo de permanente delírio, fiel ao universo de Beigbeder, que caracteriza deliciosamente o cínico mundo da publicidade.

Em "99 Francos", Octave é um profissional da publicidade, perfeitamente integrado nas regras do jogo, onde cabe o cinismo, o desprezo e a manipulação do consumidor. No entanto, um belo dia Octave passa-se definitivamente dos carretos. Picado pela arrogância de um empresário imbecil que lhe encomenda um anúncio de iogurtes, Octave decide por um ponto final a uma vida de hierarquias empresariais vaidosas, à manipulação grosseira do consumidor, a racismos velados (vale a pena ver como funciona o racismo na publicidade) e a intolerâncias várias nos anúncios de televisão. O filme bombardeia-nos de chavões, de olhares e de gestos irónicos baseados na linguagem publicitária. "O homem é um produto como qualquer outro" ou "há dois mil anos que não existia um cretino irresponsável foi tão poderoso como eu" são os dois principais chavões de apresentação de Octave.

Apesar de uma aparente ligeireza, o filme mostra-nos com uma serenidade poderosa e perturbadora como alguns dos nossos mais exclusivos sonhos e fantasmas são também eles moldados pela publicidade, que até pode ser uma publicidade a um derivado do petróleo...



Relacionado: ler esta entrada do David na Linha dos Nodos

Europeísmo de circunstância

Infelizmente, a assinatura do Tratado Simplificado fica marcada pela infantilidade do governo português em querer à força que este Tratado se designe de Lisboa, obrigando todos os dirigentes europeus a uma viagem relâmpago a Lisboa para continuar, logo à tarde, o Conselho Europeu em Bruxelas.

A adopção deste Tratado passando por cima das promessas de referendo e dos NÂO francês e Holandês pode dar muito mau resultado. Um erro que a UE poderá pagar caro numa próxima ocasião em que precise de consultar os seus cidadãos.

Apesar de ser favorável à adopção deste Tratado Simplificado, temo por esta UE nas mãos de um conjunto europeístas de circunstância, muito mais motivados pelos ganhos internos à custa do Tratado do que com a substância e o progresso do projecto europeu. Que saudades da Europa de Delors! A UE necessita seriamente de dirigentes genuinamente europeístas, penso num Jean-Claude Juncker na direita europeia, num Cohn-Bendit na esquerda ou a um centrista comoFrançois Bayrou.

Aqui para ver a assinatura do Tratado em directo (11:30)

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Prós & Contras sobre a UE

A radicalidade do discurso anti-europeísta de Pacheco Pereira foi o facto dominante do Prós & Contras.
Na forma como abriu o debate, queixando-se de não haver debate sobre o Tratado. Mas afinal já tinha havido, mas o que não tinha havido era o contraditório. Claro, só há contraditório se o próprio estiver presente...
Na forma surrealista e insistente com que tentou branquear a incoerência diplomática de Gordon Brown. Foi preciso os dois intervenientes africanos lhe dirigirem algumas palavras mais terrenas para o trazer de volta da estratosfera.
Na forma como foi metralhando factos avulsos da história e da geografia da Europa, apelando ora a pequenos medos ora ao sentimento de culpa dos europeus, como se a Europa dos 15, por exemplo, não tivesse sido construída durante decénios paralelamente a questões delicadas como a opressão militar e sangrenta na Irlanda do Norte ou a disputa de Gibraltar entre espanhóis e britânicos.
Na forma idílica como fala da Europa imaginada por Jean Monnet e outros dos pioneiros da construção europeia. Será que leu sobre as ideias internacionalistas (eram mais do que europeístas) e futuristas de Monnet e Schumann? O mais certo seria considerar algumas dessas ideias ficção científica.
Na forma idílica e quase acrítica como se refere à NATO, à realpolitik anglo-saxónica e à Polónia dos irmãos Kachinsky. Do ponto de vista populista sabe criticar Chavez, mas está sempre disposto a uma elaborada defesa de cernelha dos populistas Kachinsky.
Na forma premeditada como repetiu a frase "os portugueses vão perder muito com este Tratado". É uma frase que resulta sempre quando se quer fazer anti-europeísmo, principalmente quando se coloca à frente do muito, palavras como peixe, pesca ou recursos marinhos (lembram-se dessa?). Desta vez pouca gente percebeu o que Portugal iria perder, mas o mais importante foi repetir a frase umas cinco vezes.

Se dúvidas restam, o alcance do radicalismo anti-europeu de Pacheco Pereira revela-se totalmente na comparação com o último discurso de Cavaco Silva em Estrasburgo. Entre Cavaco e Pacheco Pereira não existe um fosso, existe um oceano, o mesmo oceano que separa a Casa Branca do Palácio de Belém.

PS- Pareciam a pedido, os dois cordeirinhos do outro lado da mesa que a RTP escolheu para o contraditório a Pacheco. Nos debates ("que não existem") sobre a Europa, Pacheco Pereira nunca é confrontado com quem lhe possa dizer umas coisas a sério sobre o seu anti-europeísmo fortemente comprometido com um seguidismo cego à Casa Branca. Estou-me a lembrar de uma Ana Gomes ou até de uma Assunção Esteves. Mas essas, já se sabe, só participam em "falsos debates pornográficos", "sem contraditório"...

terça-feira, dezembro 11, 2007

Documento de Parceria Estratégica UE-África

Quando se lê o documento de Parceria Estratégica África-UE percebe-se que as manias do seguidismo em relação às práticas internacionais dos EUA resultam em pontos de ordem absolutamente lamentáveis. Já nem me refiro à táctica de abertura e desregulamentação completa dos mercados dentro do espírito Wolfowitz. Refiro-me à menção, por exemplo, à "luta contra o terrorismo". Se lermos a pag. 29 da Acção Prioritária 1 dedicada à paz e à segurança, tropeçamos num ponto de actividades dedicado apenas à sagrada "luta contra o terrorismo" (não podia faltar). Apesar de o dia de hoje ter sido marcado por um atentado em África, convém ter presente que as minas pessoais matam muito mais pessoas em África do que os atentados. Ora, no ponto seguinte do documento, a questão das minas aparece misturada com outras armas e compromete-se simplesmente a reforçar capacidades, à criação de redes, à cooperação e ao intercâmbio de informações. Quer isto dizer que vamos ter minas a estoirar em África por muitos e longos anos, vendidas pelos países da realpolitik, os que se recusam a assinar quase todos os tratados internacionais, em particular o tratado que visa banir as minas anti-pessoais. São muito genuínas as boas intenções da "luta contra o terrorismo"...

O Discurso Nobel de Rajendra Pachauri

O discurso de Rajendra Pachauri, que preside o IPCC, proferido ontem em Oslo durante a cerimónia de atribuição do Prémio Nobel da Paz pode ser visto aqui em formato vídeo. Destaco estes dois excertos:

Paz e Alterações do Clima
"Peace can be defined as security and the secure access to resources that are essential for living. A disruption in such access could prove disruptive of peace. In this regard, climate change will have several implications, as numerous adverse impacts are expected for some populations in terms of:

- access to clean water,
- access to sufficient food,
- stable health conditions,
- ecosystem resources,
- security of settlements."


A necessidade de agir já (short window of time)
"A stabilisation level of 445–590 ppm of CO2 equivalent, which corresponds to a global average temperature increase above pre-industrial at equilibrium of around 2.0–2.4 ºC would lead to a reduction in average annual GDP growth rate of less than 0.12% up to 2030 and beyond up to 2050. Essentially, the range of global GDP reduction with the least-cost trajectory assessed for this level of stabilisation would be less than 3% in 2030 and less than 5.5% in 2050. Some important characteristics of this stabilisation scenario need careful consideration:

- For a CO2-equivalent concentration at stabilization of 445–490 ppm, CO2 emissions would need to peak during the period 2000–15 and decline thereafter. We, therefore, have a short window of time to bring about a reduction in global emissions if we wish to limit temperature increase to around 2oC at equilibrium.

- Even with this ambitious level of stabilisation the global average sea level rise above pre-industrial at equilibrium from thermal expansion only would lie between 0.4–1.4 metres. This would have serious implications for several regions and locations in the world.

A rational approach to management of risk would require that human society evaluates the impacts of climate change inherent in a business-as-usual scenario and the quantifiable costs as well as unquantifiable damages associated with it, against the cost of action. With such an approach the overwhelming result would be in favour of major efforts at mitigation."

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Muito ruído irresponsável na Cimeira UE-África

África é um continente onde se vivem graves problemas, problemas de que já perdemos a memória na Europa. É por isso muito fácil apontar o dedo a este ou àquele líder africano, é tão fácil como fácil é para eles apontar o dedo a este ou àquele passado colonial. Foi lamentável o ruído irresponsável que se criou à volta da cimeira onde pontificaram os fait-divers, a tenda do Khadafi, a acusação fácil e uma mania da superioridade moral que enjoa.
O problema é que a África de hoje precisa de outro tipo de debate, precisa de um debate sério sobre a estabilidade política, o reforço democrático das instituições nacionais, a educação, o desenvolvimento científico e tecnológico, o combate às alterações do clima e a protecção do património natural (seres vivos, recursos naturais, etc.).

Fez-se alguma coisa na Cimeira, não foi muito famosa, mas foi melhor que nada, foi certamente melhor do que ficar em Londres a apertar a mão ao pior tirano do mundo. Para quem preferir ler o que de facto se passou na cimeira em vez do habitual ruído, escrito por quem gosta de mandar palpites sem ler documentos e relatórios, aqui ficam as ligações sobre as conclusões da Cimeira:

- Pareceria Estratégica África-UE
- Declaração de Lisboa

domingo, dezembro 09, 2007

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Quem cumpre e quem não cumpre Quioto

A propósito da Conferência sobre Alterações do Clima, a decorrer em Bali, cuja missão é preparar o pós-Quioto em 2012, convém relembrar quem cumpre e quem não cumpre o Protocolo de Quioto dentro da UE. Um relatório elaborado pela Comissão Europeia dá as seguintes projecções para 2010 (pag.12, fig.4):

- Todos os países de leste deverão cumprir os objectivos de Quioto mais Luxemburgo, Reino Unido, Suécia, Finlândia, Grécia, França e Alemanha.

- Os países que deverão ficar aquém dos objectivos são a Itália e a Bélgica (a menos de 1%), Portugal (a mais de 3%), Irlanda, Áustria, Dinamarca e Espanha.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

O Fim do Mistério de Roswell



A minha última crónica no Portal do Astrónomo:

Nesta crónica costumo descrever viagens fantásticas pelo Universo, que são unicamente fruto da minha imaginação. No entanto, a tentativa de fazer passar a imaginação humana por ciência é uma prática comum. A astrologia é um dos mais antigos exemplos e a ovnilogia dos mais recentes. Neste último domínio destaca-se o mistério de Roswell.

O famoso Mistério de Roswell baseia-se num incidente em que uma alegada nave alienígena se despenha em 1947 no deserto perto de Roswell, no Novo México, com extra-terrestres a bordo, tendo a nave sido de seguida removida e ocultada pelo exército americano. Apesar de alguma especulação nos jornais locais da época, o Mistério de Roswell só teve difusão mundial após um filme em que se exibia uma alegada autópsia a um extra-terrestre ter sido transmitido pela cadeia de televisão FOX em 1995. O filme da autópsia circulou posteriormente pelas televisões de todo o mundo, tendo sido vendido por quantias astronómicas. A RTP foi uma das televisões que adquiriu uma cópia do filme. Muitos de nós ainda recordamos o debate organizado na altura pela RTP, onde o Dr. José Pinto da Costa se insurgiu com insistência sobre a forma desastrada como a autópsia era realizada no filme. Desde então uma gigantesca campanha de marketing foi montada à volta do mistério de Roswell, foi construído um museu em Roswell dedicado ao incidente de 1947, foi comercializado merchandising diverso, foram produzidos inúmeros documentários e ainda séries televisivas e filmes que não escondem uma óbvia colagem ao clima de mistério gerado pelo filme da autópsia. A série “Ficheiros Secretos”, produzida pela mesma cadeia de televisão FOX e o filme “O Dia da Independência” são talvez as produções mais caras, mas que também geraram mais receitas, explorando o caso Roswell.

Recentemente, descobriu-se que o filme da autópsia é falso e que o seu produtor, Ray Santilli, recorreu ao escultor John Humphreys – também produtor de efeitos especiais que criou Max Headroom - para a realização do cenário do filme da autópsia. Recorrendo a um manequim desenhado para o efeito, a carne de galinha, a um cérebro e a uma perna de carneiro, Humphereys foi o artífice do extra-terrestre autopsiado. Os actores que participam na acção foram os próprios, sem qualquer experiência em autópsias, daí ser inteiramente legítima a célebre irritação do Dr. José Pinto da Costa. No documentário “Eamonn Investigates: The Alien Autopsy” (ver aqui) transmitido pela cadeia Sky, o assunto é dissecado quase na sua totalidade, tendo os autores da embuste enveredado por uma argumentação pouco convincente de que o filme da autópsia seria uma hipotética cópia de um filme original muito degradado que Santilli adquiriu nos EUA. O lucro gerado pelo filme da autópsia estima-se em 4 milhões de euros. Resta saber se o mistério de Roswell, refiro-me agora ao mistério comercial de Roswell, acaba na confissão Santilli, ou se tem ramificações a quem mais lucrou com a lenda: a cadeia de televisão Fox e a sua empresa irmã da sétima arte Twenty-Century Fox.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

O ligeiro problema da Opus Dei

Nesta passagem de um grandioso post, o Tiago Mendes toca num ponto muito importante que caracteriza na perfeição as incoerências do catolicismo à portuguesa, em particular a Opus Dei:

"dão-se alvíssaras a quem encontrar, naquilo que o André Azevedo Alves escreve há anos sobre o que quer que tenha uma dimensão social e humana, uma molécula que seja de amor, de compreensão ou de compaixão de inspiração cristã. Há ali uma incoerência que não percebo"

De facto, quem ouve ou lê alguns dos representantes mais mediáticos da Opus Dei fica com a sensação que o exemplo de humildade e simplicidade da vida de Cristo é completamente adulterado. Falam constantemente de riqueza com a boca cheia, quem os ouve julga que Cristo era rico e filho de ricos e falava aos ricos, e em vez de distribuir gratuitamente peixe aos pobres, apelava à diminuição dos impostos dos ricos. O consumismo e as posses materiais são encorajados por cima de toda a folha. É um discurso carregado de desprezo pelos excluídos, rotulados frequentemente de preguiçosos, apedrejando as Marias Madalenas (e Madalenos) deste mundo. A sua atitude anda muito mais próxima das descrições fantásticas do Mafarrico de tridente em punho do que propriamente da aura misericordiosa do Altíssimo.

O Paralelepípedo de Maio de 68

À atenção de qualquer soixante-huitard que se preze:

"Mai 68, le pavé" é um livro comemorativo do Maio de 68 em forma de paralelepípedo, composto por fotos e pelos slogans mais criativos.

terça-feira, dezembro 04, 2007

Daniel Oliveira sobre Chavez

Concordo com quase tudo o que o Daniel Oliveira tem escrito sobre Chavez.
É isto que eu espero da esquerda, que use do seu espírito crítico em permanência, sem cair no sectarismo nem aderir à carneirada que se alinha atrás de qualquer panfleto vermelho mixuruca.

Austrália ratifica protocolo de Quioto

É oficial, a Austrália vai ratificar o Protocolo de Quioto. Depois deste anúncio, os EUA serão o único país entre as nações mais desenvolvidas a não ter ratificado o Protocolo. O isolamento da Administração Bush não é apenas externo, é também interno. Apesar de Bush já ter admitido que o aquecimento global é uma realidade, a comunidade científica americana - que em muito contribuiu para o trabalho do IPCC e para os avanços significativos no conhecimento das alterações do clima - tem-se manifestado abertamente contra a teimosia de Bush. A oposição interna à política ambiental de Bush chegou ao ponto de um significativo movimento de cidadãos do Estado do Vermont apelar à independência do Estado invocando, entre outros motivos, a não ratificação do protocolo de Quioto.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

A Tábua de Chavação

Fico perplexo quando leio pessoas de esquerda que considero inteligentes e muito bem informadas defenderem de cernelha um populista de pacotilha como Chavez. Tenho a certeza que se hipoteticamente trocassem dois dedos de conversa com o personagem, algumas o rotulariam de atrasado para baixo. Ele certamente os rotularia de traidores para baixo. Mas como o vêem ao longe na TV ou nos jornais embrulhado em bandeirinhas, em balõezinhos e em estrelinhas vermelhas em pleno delírio contra os populistas de direita (que são quase iguais a ele), a nostalgia de outros tempos parece assumir o controlo da sua capacidade crítica.

A sensação que fica para quem os lê é que a esquerda hoje se resume a populistas como Chavez, como uma tábua de salvação que resta de um grande navio marxista que se afundou a pique. Fica a sensação que não há outras esquerdas na Venezuela, ou na América do Sul, ou no resto do mundo. Fica a sensação que o único projecto de esquerda foi o do socialismo real do século XX. E fica a certeza que na esquerda ainda há um importante trabalho de luto político a fazer. A esquerda só faz sentido se for crítica e capaz de se questionar (não é sinónimo de se fraccionar) em permanência.

Noctis Labyrinthus


Imagem Mars Express, ESA

domingo, dezembro 02, 2007

Filme europeu do ano: 4 meses, 3 semanas e 2 dias

O filme "4 meses, 3 semanas e 2 dias" voltou a obter uma importante distinção internacional. Após ter vencido o mais prestigiado galardão cinematográfico, a Palma de Ouro do Festival de Cannes, desta vez obteve o galardão de filme europeu de 2007, atribuído ontem em Berlim.

O nosso Mestre Manoel de Oliveira com apenas 98 anos, 11 meses, 2 semanas e 6 dias recebeu um galardão honorífico pela sua carreira cinematográfica.

sexta-feira, novembro 30, 2007

Sputnik e o programa espacial soviético

Excelente este número especial da Ciel&Espace elaborado em parceria com o CNES sobre o Sputnik e o programa espacial soviético. São divulgados detalhes históricos inéditos, em particular a batalha política de Korolev para lançar uma missão científica, o Sputnik, a meio da sua principal tarefa que era a de construir o maior míssil balístico do mundo para fins militares.
Nesta edição são publicadas excelentes fotografias de época desde o tempo de TsiolKovski. São divulgadas uma série de curiosidades e detalhes técnicos sobre os pioneiros dos primeiros foguetes, sobre as primeiras missões e sobre o impacto político de cada avanço na conquista do espaço.
A revista analisa também o que resta e o que funciona do programa espacial soviético e faz uma projecção do que poderá ser a conquista do espaço daqui a 50 anos, 100 anos depois do Sputnik.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Quero um carro pequeno!

"Quero um carro pequeno!" exclamei ao empregado de uma empresa de aluguer de automóveis de Honolulu. Deram-me um Buick LaCrosse, uma bestinha com um motor de 3600 cm3 V6 ao preço diário de um VW Polo na Europa. Eu gosto de carros e se encontrasse no Havai uma estrada abandonada o meu reflexo era ir sacar uns piões com travão de mão - o Buick é um tracção à frente - para experimentar o V6 a fundo. Mas este é um luxo e um exagero que mais de metade da população mundial nunca irá ter.

O Buick LaCrosse consome cerca de 12 l/100km em circuito urbano e cerca de 9 litros em auto-estrada.

O automóvel mais vendido nos EUA é o Ford F, uma pickup cujo motor pode variar entre um 4200 cm3 V6 e um 5400 cm3 V8! O seu consumo é de 16 l/100km em circuito urbano e 10,8 litros em auto-estrada.

Na Europa os modelos mais vendidos são o VW Golf e o Ford Focus com motorizações entre os 1400 e os 2000 cm3 com consumos a oscilar entre os 7 litros e os 11 l/100km

Tirem as vossas próprias conclusões...

quarta-feira, novembro 28, 2007

Justiça a Fernando Gomes

Finalmente compensa ir de Coimbra ao Porto apanhar o avião. No Alfa, numa hora está-se em Campanhã. Em 40 minutos está-se no aeroporto, em frente ao check-in, graças ao metro de superfície. Graças a Fernando Gomes! (pensei eu enquanto admirava uns putos de bicicleta que entravam no metro ali para os lados da Fonte do Cuco). No Porto a mala recolhe-se em apenas alguns minutos.

Em relação à Portela poupam-se 40 minutos no comboio mais um intervalo de tempo aleatório que pode ir de 10 a 45 minutos se escolhermos o autocarro (linha urbana 44) para ir até à Portela. Ou de 10 a 20 minutos se escolhermos o táxi. Poupa-se também no mau humor habitual dos taxistas quando se diz que a corrida é só do Oriente para o aeroporto ou vice-versa. Poupa-se no tempo de recolha das malas, num aeroporto desorganizado, pouco asseado e a rebentar pelas costuras.

Fernando Gomes é um autarca tipo do PS e do PSD com quem por princípio não me identifico. São autarcas incapazes de alterar substancialmente os comportamentos de modo a preparar a cidade para os futuros desafios sociais e ambientais. No entanto, dentro deste tipo de autarcas há que reconhecer que Fernando Gomes foi dos melhores. O metro de superfície do Porto é um transporte público de qualidade que catalisa visivelmente o desenvolvimento da cidade, da periferia (muito pobre) e do aeroporto. Ajuda a misturar de uma forma salutar a população das zonas pobres com um baixíssimo nível educacional com as zonas urbanas mais privilegiadas. Mas, a Fernando Gomes não se deve apenas a ideia do metro de superfície - que importou de Estrasburgo certamente quando foi eurodeputado - a grande requalificação urbana da zona histórica da cidade também foi obra sua. Resta o pecado da candidatura a despropósito que perdeu depois de ter saído do governo, deu a sensação que não conseguia passar sem um cargo político.

terça-feira, novembro 27, 2007

Consequências das declarações de Barroso II

A Ana Gomes comenta as declarações de Barroso sobre as ADM no Iraque como uma "tentativa de limpar o seu nome". Sugiro à Ana Gomes que acredite (tal como eu) nas declarações de Durão Barroso, pelo menos num primeiro tempo. É que as declarações de Barroso são gravíssimas. Portugal foi enganado ao mais alto nível por outros países, com a agravante de serem países aliados. Isto é muito mais grave do que as declarações do Procurador Geral da República sobre as escutas telefónicas. Trata-se da segurança do Estado ameaçada ao mais alto nível. Porque é que a Ana Gomes juntamente com a esquerda parlamentar não exige uma audição ao ex-primeiro ministro? Tira-se tudo a limpo. Ou ficaremos a saber definitivamente quem enganou Durão Barroso e poderemos tomar medidas à altura da gravidade do caso com os respectivos países, ou chegaremos à conclusão que o ex-primeiro ministro está a tentar limpar o seu nome, se de facto ninguém o enganou ou se se deixou enganar voluntariamente.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Sobre a Melhor Universidade

Fico satisfeito por a minha universidade ser considerada a melhor do país por um ranking de prestígio como o do The Times Higher Education Supplement, mas este resultado à luz do panorama europeu e internacional não é brilhante. Nem é tanto pela posição a nível global 319ª (266ª em 2006 até foi muito bom), é sobretudo por alguma inércia na sua dinâmica como instituição académica e científica e pela a sua pobre ligação à sociedade, quando comparada com o panorama internacional.

Hoje em dia, os investigadores das melhores universidades europeias e mundiais estão habituadíssimos a publicar os seus trabalhos em revistas internacionais da especialidade onde são avaliados pelos seus pares. Apesar de na Universidade de Coimbra esta prática salutar se ter finalmente instalado - que lhe tem valido o 1° lugar no ranking - pouco tem sido feito para cultivar a sua valorização e a criação de condições para a produção científica e tecnológica. Poderia encher este blogue até lá baixo de histórias absurdas sobre a burocracia e a tacanhês de meia dúzia de personagens de departamentos, de faculdades e de serviços administrativos que só empatam o dinamismo da instituição. São o resquício da Coimbra dos Shôtores que não investigavam, que não interagiam nem com empresas, nem com a sociedade, nem achavam que essa era a sua obrigação. Isso, felizmente, está a acabar e muito o devemos à ruptura que se deu na contestação de Abril de 1969 e a alguns pontapés bem dados no traseiro após o 25 de Abril.

Apesar de o forte da UC ser a sua presença constante no meio científico internacional em quase todos os domínios, o seu contacto com a sociedade (empresas, instituições públicas), a divulgação do seu trabalho ao grande público e a sua internacionalização quer através da participação em redes internacionais ou na atracção de alunos e docentes estrangeiros, ainda fica muito aquém da realidade das universidades por onde passei e com as quais colaboro: Pádua, Louis Pasteur (Estrasburgo), Bolonha e Louvain-la-Neuve - todas no top 200 da Times. Todas multiculturais e perfeitamente internacionalizadas.

Mas os problemas da UC são também os problemas das restantes universidades do país, onde é apenas um pouco mais grave o problema da pouca publicação dos trabalhos de investigação em revistas internacionais com arbitragem - no caso das privadas é praticamente inexistente, apesar do acesso em igualdade de oportunidades aos fundos de investigação nacionais e europeus. A ligação à indústria, à sociedade e às instituições públicas é fraca e a criação de redes sólidas com empresas e as referidas instituições ainda está por fazer. No caso de alguma ligação à indústria ainda se encontra muito xico-espertismo de parte-a-parte e a transferência de tecnologia para as empresas ainda é em muitos casos uma simples camuflagem para algumas negociatas em proveito individual. O paroquialismo reina na universidade portuguesa, a dificuldade em entrar em redes internacionais é enorme e a falta de credibilidade e de pontualidade não escapam ao olhar crítico dos nossos parceiros europeus e mundiais.

domingo, novembro 25, 2007

Futebol e Fátima

A entrevista do bispo Januário Torgal Ferreira sobre o catolicismo à portuguesa é muito boa. Sem papas na língua, o bispo denuncia os desvios da nossa igreja desde a cumplicidade com Salazar ao desprezo pelos direitos humanos.

O artigo de Rui Reininho deste sábado no JN, "Ó = Ó", é uma delícia. Parece-me dedicado a um certo e determinado admirador de Pinochet.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Consequências das declarações de Barroso

Durão Barroso, ao revelar que lhe transmitiram informações "que não corresponderam à verdade" sobre a existência de armas de destruição em massa, deveria ser objecto, pelo menos, de uma audição parlamentar para se saber com rigor como e quem enganou o nosso primeiro-ministro da altura. Relembro que estamos a falar de um assunto de estado da maior gravidade: a guerra. Na guerra morre gente, não se trata propriamente de um banal assunto de Estado como uma subida de taxas de juro ou mesmo da realização de um referendo popular. Relembro ainda que já houve audições parlamentares a jornalistas, por causa de uma vírgula.
Se foi a Administração Bush que enganou o nosso primeiro-ministro deveriam ser tiradas consequências à altura da gravidade dos factos, visto que fazemos parte de uma aliança militar com os EUA: a NATO. A aliança militar entre dois países é incompatível com este tipo de práticas, bastante comuns, isso sim, entre países rivais.
Se as informações enganosas vieram de outra fonte qualquer, o caso é ainda mais grave porque revelaria que estamos permanentemente expostos a ser ludibriados ao mais alto nível do Estado sobre assuntos da maior relevância política.

Fosse Portugal um país sério e esta questão seria tirada a limpo até às últimas consequências, o Presidente da República, o Primeiro-Ministro e o Parlamento não deveriam admitir com passividade que o nosso país tenha sido enganado ao mais alto nível sem que sejam extraídas quaiquer conclusões e as consequências devidas.

O aconselhamento científico do Primeiro Ministro
O episódio Barroso revela igualmente como é perigoso um primeiro-ministro não ter conselheiros científicos à altura das suas funções. Na altura da cimeira havia cientistas e militares em Portugal que saberiam certamente reconhecer os camiões de hidrogénio ou pelo menos formar uma opinião crítica sobre a ideia de o Iraque transportar agentes biológicos em camiões pelo meio do deserto a altas temperaturas (ver 5. da entrada anterior). Além do mais, os comentários dos peritos americanos do Departamento de Energia e dos russos às "provas" apresentadas por Powell eram já conhecidos na altura. A quem recorreu Barroso para confirmar as provas que lhe foram apresentadas, visto que ele não tinha obviamente competência para as analisar? É uma questão que não deveria ficar sem resposta, porque é a "brecha" por onde entrou a informação enganosa.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Relembrar as mentiras sobre ADM no Iraque

Há mais de dois anos comentei aqui o livro "Disarming Iraq" da autoria de Hans Blix, o coordenador das inspecções de armas de destruição em massa (ADM) no Iraque. Dois anos depois o livro não perdeu a actualidade. Transcrevo a minha entrada de então:

Durante o processo de inspecções do Iraque lideradas por Hans Blix existiu uma constante pressão da administração Bush para montar um cenário de uma suposta ameaça apocalíptica da parte do Iraque sobre o mundo ocidental, os EUA e Israel em particular. Esse cenário em que supostamente armas de destruição em massa (ADM) estariam prontas a ser disparadas em 45 minutos nunca foi verificado por qualquer observação dos inspectores no Iraque liderados por Hans Blix, nem pelos melhores especialistas mundiais de ADM (Departamento de Energia dos EUA, DE; Institute for Science and International Security, ISIS; e Agência Internacional de Energia Atómica, AIEA). Por outro lado a tentativa de montar um cenário apocalíptico por parte dos EUA e do Reino Unido não é uma simples opinião política, essa tentativa foi bem real, está documentada e registada e ironicamente acabou por obter resultados em países em que existe um défice de consciência crítica e de falta de rigor dos políticos em assuntos de carácter científico, como em Portugal.
Hans Blix no seu livro "Disarming Iraq" descreve com detalhe e de uma forma muito fundamentada as ilusões que a propaganda americana e britânica impingiram ao mundo com algum sucesso. Depois do anúncio da comissão americana de inspecções de armamento no Iraque de que não existiam ADM, todos os argumentos apresentados pela administração Bush parecem hoje particularmente ridículos e falsos. No entanto convém recordar os argumentos que sustentaram a existência de ADM no Iraque, para que não caiam no esquecimento:

1- Uma ogiva para explosivos de fragmentação para mísseis de curto alcance encontrada numa sucata de uma fábrica encerrada e decadente. Supostamente serviria para espalhar agentes químicos. Não foi encontrado qualquer vestígio de agentes químicos ou biológico na ferrugem dos restos da ogiva.

2- Um drone com um raio de acção de controlo a partir do solo de 8 km, cuja capacidade de carga útil era inferior a 20 kg. Supostamente serviria para espalhar agentes químicos. Com uma carga útil de 20 kg e um raio de controlo de 8 km deveria ser para matar pássaros na periferia de Bagdad...

3- Tubos de alumínio para enriquecimento de urânio por centrifugação - Foram comprados ilegalmente, mas serviam para a construção de foguetes. O DE e AIEA declararam vezes sem conta que aqueles tubos não serviam para as centrifugadoras. Um dos inspectores americanos depois intervenção no Iraque sugeriu que fossem utilizados em canalizações...

4- "Yellow stone" ou urânio natural supostamente importados pelo Iraque ao Niger é um material cuja utilização em armas nucleares requer um tratamento industrial complexo que a caduca indústria Iraquiana nunca poderia executar. O mais engraçado, é que a suposta importação de "yellow stone" por parte do Iraque é baseada num recibo apresentado pela administração americana e que se provou ser uma falsificação. A administração Bush declarou mais tarde que "alguém" falsificou esse recibo, eles só o tinham apresentado. Nunca se soube quem era esse "alguém". É outra forma de dizer "não sei quem FUI"...

5- Os famosos camiões de armas biológicas apresentados por Powell na ONU, como se veio a confirmar no fim da guerra, eram camiões de transporte de hidrogénio utilizados em balões meteorológicos de alta altitude. Já assisti a um lançamento de um balão a hidrogénio desse tipo e posso garantir que é algo de muito corrente o facto do enchimento ser feito por camiões. Mas o pior de toda esta história é que a ISIS, os especialistas em armas biológicas dos EUA, da Rússia e do Iraque disseram que aquela acusação só revelava uma ignorância tremenda dos serviços secretos britânicos. É que todos os especialistas em armas biológicas, inclusive os Iraquianos, consideravam a opção de utilização de camiões como uma opção perigosíssima, pois basta um pequeno acidente de trânsito para provocar uma catástrofe. O calor que se faz sentir no Iraque torna impraticável a utilização de laboratórios móveis que pudessem funcionar a uma temperatura aceitável sem adulterar os agentes biológicos.

Quase todas estas informações eram conhecidas antes da intervenção, mesmo assim avançou-se para o Iraque sob o pretexto das ADM. O cúmulo do propagandismo americano foi quando Condoleza Rice algumas semanas antes da intervenção no Iraque declarou: "as pessoas só vão dar razão aos EUA quando virem um cogumelo nuclear [produzido pelo Iraque]". Isto depois da AIEA, do DE dos EUA e da ISIS terem dado como finalizadas as inspecções de armas nucleares e como encerrado o programa nuclear Iraquiano...

terça-feira, novembro 20, 2007

Concordo

"...é fácil as pessoas saírem do marxismo mas é mesmo muito difícil a retórica marxista sair das pessoas. Ela continua a reciclar os seus velhos vícios — as amálgamas, a rigidez, o maniqueísmo, a culpa por associação e até a pura fabricação — para o debate público."
"Os Autoritários", Rui Tavares

segunda-feira, novembro 19, 2007

O Modelo Sicko Americano

Na downtown de Honolulu, por volta das nove e meia da noite, os pobres começavam a ocupar os bancos, os cantinhos, os pedaços de relva para dormir. Eram muitos, muitos mesmo, como já perdemos a memória na Europa. A maior parte eram pessoas de idade, e brancas, que deveriam estar na reforma, mas que aqui chegaram ao fim dos seus dias sem sequer um tecto para dormir.

À minha frente uma senhora vai empurrando um carrinho das compras cheio de tralha, aquela tralha é tudo o que lhe resta após uma vida de trabalho.

Ao meu lado um senhor idoso, obeso, bebe fanta. Nos EUA, a fanta é mais barata do que uma garrafa água, mas tem o ligeiro problema de fazer engordar. Ele fez a opção possível, tecnicamente a única possível.

Junto às praias paradisíacas de Waimea, Mokuleia, Kahana e Kailua, amontoam-se caravanas e tendas que são a residência de famílias inteiras que aproveitam os balneários das praias como casa de banho.

Na costa Oeste de Oahu, ao longo da faixa costeira, longe dos roteiros turísticos, existe um gigantesco "bairro da tenda", uma espécie de bairro da lata composto por tendas de campismo.

Na Europa também temos muitos pobres. Em média, os nossos pobres vivem talvez com menos 100$ por mês do que os pobres americanos, mas não vivem assim, não estão excluídos do sistema desta maneira, não sofrem do mal de falta de tecto de uma forma tão generalizada. E o que vi em Honolulu é tão mau como o que vi em Los Angeles, embora consideravelmente pior do que Washington ou Nova Iorque. Mas a pobreza aliada à exclusão é uma constante das downtowns americanas que visitei, a um nível que começa a ser raro ver-se deste lado do atlântico, mesmo nos sítios piores, como na baixa do Porto, por exemplo.

domingo, novembro 18, 2007

Jesus Camp



"Jesus Camp" de Heidi Ewing and Rachel Grady é um documentário que questiona as práticas religiosas de uma seita protestante norte americana representativa da corrente espiritual com mais influência junto da actual Administração Bush. Toda a cartilha moralista da Casa Branca é expressa em "Jesus Camp" na sua forma mais radical, pelos mais puros entre os puros.

Na cena inicial, uma criancinha aprende por um livro escolar que o darwinismo não existe, foi tudo criado por Deus (obviamente), e que o aquecimento global se trata de uma conspiração inventada pelos cientistas (onde é que nós já ouvimos isto?). Aliás, são as crianças os actores principais deste filme, que nos mostra o dia-a-dia de um campo de férias organizado pela referida seita evangelista. A directora do campo de férias informa-nos que no Médio Oriente, "eles" ensinam as crianças desde tenra idade a manipular armas para combater o cristianismo e que "nós" deveríamos fazer melhor do que "eles". De Jesus, o verdadeiro, o da Bayer, o campo de férias não tem quase nada, o campo na verdade é um vulgar negócio onde as crianças são simultaneamente o trabalhador e o produto. Esse é verdadeiro segredo das escolas de lavagem ao cérebro que se vão tentando implantar um pouco por todo lado nos EUA. A não obrigatoriedade de sujeitar os alunos a exames nacionais com a mesma matéria e com um nível de dificuldade que exprima o rigor próprio do ano escolar que frequentam, abre portas a que surjam escolas de fanatismo religioso, onde os alunos pouco ou nada aprendem sobre ciência, cultura e literatura. A lavagem ao cérebro a que estão sujeitos serve unicamente para perpetuar um negócio perigoso que explora as fraquezas sentimentais dos cidadãos, em particular os das próprias crianças.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Os salários dos investigadores europeus

Este relatório elaborado pela comissão europeia, em que se comparam os salários dos investigadores europeus aos do resto do mundo é muito elucidativo. Os conselhos europeus em que se estacionou a Estratégia de Lisboa para se desbundar na esquizofrenia da luta contra o terrorismo ajudaram a produzir este tipo de resultados. Aqui fica aqui o resumo:

"A study on researchers' salaries carried out for the European Commission shows that the average salary for EU researchers is almost €23000 less than the average in the US, and also below average salaries in Australia, India and Japan. The study also notes the huge variations within the European Research Area (from €9800 in Bulgaria to €46500 in Switzerland) and significant differences between male and female researchers, as much as 35% in some countries. The value given to experience and the different levels of starting salaries also show up great differences across the EU: a UK researcher can expect a significant increase in salary as his or her career progresses - maybe as much as 335% - while a Danish researcher will maybe see a 90% increase."
"Remuneration of Researchers in the Public and Private sectors", Divisão de Investigação da Comissão Europeia

quarta-feira, novembro 14, 2007

Do seminário vazio ao vazio do seminário

A não perder o texto "A igreja portuguesa e as ovelhas que fogem do redil" de João Miguel Tavares.
Pois é, o nosso clero foi a correr para o Vaticano para se queixar que a fé está em crise, que os seminários estão vazios, mas vieram de lá com o raspanete do vazio da prática religiosa à moda lusitana. Conclui muito bem o João: "por isso Fátima enche, enquanto as igrejas se esvaziam".

Não percebem o quê? (comentários)

"Embora o mecanismo referendário de tratados (que não são só internacionais, porque têm implicações políticas sérias para Portugal) seja discutível, parece-me que invocar a ignorância do povo está ao nível dos argumentos liberais-conservadores do século XIX para travar outras exigências democráticas.
Vendo bem as coisas, embora pense que franceses e holandeses decidiram mal, só aos mais distraídos ou cínicos é que estes resultados oferecem surpresa: é que parece que para aqueles lados a narrativa neoliberal de políticos nacionais e europeus não cai tão impunemente como por estes lados. Reflicta a dita esquerda moderna no assunto e reconheça, pelo menos, que não se pode invocar uma Europa cidadã ao mesmo tempo que se trata os cidadãos como uns simples de espírito, tudo decidindo nas suas costas, numa lógica de merceeiro ou de feirante de poderes.
Tal como o Rui, sinto-me mais aliviado do que satisfeito com este tratado. Espero, sinceramente, que seja ratificado, e que termine com mais de 10 anos de reformas falhadas ou capciosas. Embora o Tratado Constitucional fosse incomparavelmente melhor, se o concerto intergovernamental não consegue mais do que uma emenda substancial, há que reconhecer que este tratado é preferível a Nice."
Sérgio

"O problema de ambos os lados da barricada (Euro-entusiastas e Euro-cépticos) e que nenhum deles esta, de facto, interessado em saber aquilo que as populações europeias querem da UE. Por isso instrumentalizam as ferramentas democráticas ao seu dispor e ignoram que essas ferramentas não são adequadas para esta construção politica que e a UE. Repare que o SIM quer aprovações parlamentares porque só assim garante o SIM. Já os do NAO querem o referendo porque só assim garantem o NAO.
Vital Moreira usa argumentos imbecis como "eles não percebem logo não devemos cansar as suas cabecinhas" o Miguel Portas usa argumentos imbecis como "matematicamente prova-se que os referendos nacionais são perversos mas politicamente são bons".
Obviamente o que necessitamos aqui e de uma terceira via, um outro método qualquer que deveria ser desenhado com base em ciência sólida para consultar as populações sem distorções. Mas este tipo de proposta, curiosamente, é sempre contraposto com um ensurdecedor silencio
"
Lowlander

Pequeno comentário ao Lowlander:
O Miguel percebeu o problema da quase impossibilidade de o SIM ganhar em 27 referendos nacionais, mas como a promessa de referendo já foi feita em vários países, ele considera que do ponto de vista democrático essa promessa deve ser cumprida.

terça-feira, novembro 13, 2007

Build Diplomacy, Not Bombs

Muito bom o artigo dos editores da Sientific American deste mês: "Build Diplomacy, Not Bombs".
É apresentado ainda um dossier muito crítico sobre a necessidade efectiva da renovação do armamento nuclear anunciado pela Administração Bush.

Numa altura em que um dos delírios belicistas do governo americano é a instalação de um sistema defensivo anti-míssil na Europa, aconselho vivamente a leitura deste número aos nossos euro-representantes.

Não percebem o quê?

Eu que ando por escolas secundárias a explicar astrofísica e física nuclear a crianças e jovens dos 12 aos 18 anos fiquei completamente banzado com a argumentação de que o cidadão comum não percebe o Tratado de Lisboa... Isto vindo do Ministro Luís Amado não me espanta muito, o seu europeísmo insípido, inodoro e incolor aceita com a mesma pacatez tanto um novo tratado qualquer como o fim da UE já amanhã. No entanto, chocou-me este tipo de argumentação vindo da parte de Vital Moreira, a quem reconheço empenho e interesse em que o projecto europeu dê os passos importantes de que muito necessita.

Como já aqui o referi, sou um apoiante tanto do ex-Tratado Constitucional, como da actual versão simplificada. Mas justificar a não realização do referendo com a complexidade do tratado é pior argumentação que um genuíno europeísta pode invocar. Primeiro, porque é obrigação dos políticos explicar aos cidadãos o conteúdo dos textos jurídicos que vota. Para o fazer não é necessário explicar ao detalhe parágrafos e termos técnicos jurídicos, o que é importante é que o cidadão perceba o sentido geral do texto e tenha uma ideia sobre os seus efeitos práticos. Qual é a dificuldade de explicar o fim do voto por unanimidade nalgumas matérias, a aplicação da carta dos direitos fundamentais ou a existência de um "Ministro dos negócios estrangeiros", por exemplo? Do mesmo modo, numa escola secundária não preciso de explicar às crianças mecânica quântica ou o efeito fotoeléctrico para que estas fiquem com uma ideia do ciclo de vida de uma estrela. Se um político não é capaz de descodificar a lei para entendimento dos cidadãos, o melhor é deixar a política. Em segundo lugar, a argumentação do "não percebem" é ofensiva para todos os que percebem os tratados (que não são poucos e alguns até os percebem melhor que os políticos) e sobretudo geradora da habitual vitimização anti-europeísta. Foi tiro-e-queda a reacção de vitimização Pacheco Pereira, por exemplo. Em terceiro lugar, argumentar com o "não percebem" para não realizar referendos anteriormente prometidos afasta os cidadãos da política europeia e aumenta a sensação de que a política é feita nas cúpulas à margem da cidadania. Além do mais, estamos perante o contrário da ilação que tinha sido tirada do NÃO holandês e francês, de que era necessário explicar o projecto europeu e aproximar mais a Europa aos cidadãos. Para o europeísmo o "não percebem" pode ter efeitos muito mais negativos a longo prazo do que o NÃO holandês e francês.

domingo, novembro 11, 2007

A anexação do Havai

A história da anexação do Havai pelos EUA é de um cinismo tal que nos questionamos se algum antepassado de Kissinger não andaria já pelo Pacífico naquela época. Um golpe de estado pseudo-republicano derrubou a monarquia havaiana em 1894, mas por detrás das boas intenções republicanas, a produtora de frutas Dole já tinha o golpe preparado e 4 anos mais tarde o governo do Havai aceita a integração do arquipélago nos EUA. Convido-os a ler nesta página a história oficial da anexação contada pelo governo americano e aqui a história da anexação segundo os independentistas havaianos.

O Havai tornou-se o 50° estado americano em 1959 após um referendo em que o grupo étnico maioritário da ilha, os japoneses, teve um papel decisivo no resultado. O sentimento de culpa da população nipónica do Havai pelas atrocidades cometidas no Pacífico pelo Império Japonês durante a II Guerra Mundial, em particular pelo bombardeamento de Pearl Harbor, pesou decisivamente na sua tendência de voto.

No Havai são notórios sentimentos de anti-americanismo da parte da população indígena, sobretudo o sentimento de o Havai representar uma certa forma de colonialismo moderno. Paralelamente, ostenta-se o orgulho pela cultura polinésia, da qual descendem os primeiros habitantes do arquipélago.

sábado, novembro 10, 2007

As formigas não têm alma

"As formigas não têm alma, afirmou Descartes; aos autómatos não se exigem quaisquer obrigações morais."

"Sombras de Antepassados Esquecidos", Carl Sagan e Ann Druyan, pag. 161, linha 5, Gradiva (1997).

Ora aqui está a resposta à corrente a que me ligou o Filipe Moura (eu também gosto de correntes). A frase é boa, não é Filipe? ;) É o meu presente livro de cabeceira. Como sou um tipo chato vou passar a corrente a mais uns amigos, se eles estiverem com paciência para estas coisas. As regras do jogo são: pegar no livro que está mais próximo, abrir na página 161 e transcrever a quinta frase completa dessa página.

À atenção da Isabel do Aba de Heisenberg, da Carla do Welcome to Elsinore, da Eva do Filhos & Cadilhos, do Luís da Natureza do Mal e do David da Linha dos Nodos.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Portugal no Havai II

O Cavaquinho (Ukulele) tocado por um natural de Samoa a trabalhar no centro cultural polinésio de Oahu, no Havai.

No final do século XIX foram cerca de 18 mil os portugueses que emigraram dos Açores e da Madeira para ir trabalhar nas plantações havaianas. Actualmente, os luso-descendentes estimam-se em cerca de 50 mil.

Pokiki foi o nome que os havaianos deram ao primeiro grupo numeroso de portugueses chegados em 1853.

Encontra-se a rua de Lisboa, a rua lusitana, vendem-se iguarias da nossa culinária remotamente parecidas com as originais: linguiça, pão doce e malassadas (filhós).

Entre a lista dos mortos do USS Arizona durante o ataque a Pearl Harbor detecto um De Castro, um Santos e um Valente.

Vida

As últimas imagens que retenho do Havai são as da vida fervilhante que encerra esse imenso reservatório que é o Oceano Pacífico: peixes azuis-claros e azuis-escuros, peixes brancos em forma de flauta, caranguejos pretos às pintas vermelhas, focas, polvos, etc., tudo ali à beira da costa. Percebe-se que a ilha de Oahu já levou em tempos uma grande limpeza de tudo o que pudesse morder ou picar. Felizmente a imensidão do Pacífico é, por enquanto, razoavelmente imune às grandes limpezas do mais perigoso dos predadores: o homem.

sexta-feira, novembro 02, 2007

Há sempre uma perseguição que vale a pena

Concordância total com o Francisco José Viegas.
A semana passada eram os pretos, esta semana são os judeus, quiça na próxima semana seja a vez do "lobby gay". Para quem ainda empunha a cruz em riste há sempre uma perseguição que vale a pena.

Portugal no Havai

A descoberta do Havai é atribuída a um navegador português ao serviço da coroa espanhola a quem é dado o nome de Juan Gaetano (não sei até que ponto há rigor histórico na atribuição desta descoberta).

Introduzido por uma forte vaga de emigração portuguesa, o cavaquinho é hoje um dos instrumentos tradicionais do Havai, é curioso vê-lo entre palmeiras e flores exóticas.

quarta-feira, outubro 31, 2007

Aloha!

- Meia volta ao mundo para participar numa conferência, são luxos pouco compatíveis com a problemática ambiental. A generalização da videoconferência deveria limitar o número de deslocações de conferencistas, a emissão de CO2 e o desperdício de recursos. Ainda não estamos nesse ponto.

- Primeira impressão de Honolulu: os fotógrafos havaianos são excelentes. A selva de betão, a manhosice da construção dos hotéis "de sonho" e os condomínios que cortam o acesso directo à praia são brilhantemente disfarçados nas fotos turísticas.

- A fruta é exótica, sabe mesmo a fruta, e o peixe é fresquíssimo, a comida-brinquedo da metrópole ainda não se conseguiu impor aqui.

sábado, outubro 27, 2007

A Klepsýdra muda de águas

Dentro de algumas horas a Klepsýdra vai começar a registar o tempo com a água salgada lá do meio do Pacífico Norte, aí mesmo onde estão a pensar. Não vai propriamente de férias, mas os caros leitores podem sempre apresentar-se de prancha! ;)

sexta-feira, outubro 26, 2007

A China vai à Lua

A China iniciou o seu programa lunar com o lançamento do satélite Chang’e-1. O objectivo é fazer aterrar um rover na superfície lunar lá para 2020. Através dos emails que vou trocando com os meus colaboradores chineses sente-se aquele arrepio na espinha, a emoção de que o seu trabalho pode trazer de volta a China aos grandes acontecimentos da história, mas desta vez pelos bons motivos.

Conversas com o meu jardineiro



"Conversas com o meu jardineiro" de Jean Becker, baseado no romance homónimo de Henri Cueco, é um delicioso filme sobre os prazeres e as maleitas da vida. Dois colegas de infância encontram-se alguns decénios mais tarde, na velha aldeia onde frequentaram juntos a escola primária. Dupinceau (Daniel Auteil), filho de boas famílias, tem um percurso escolar sem falhas que o leva até às belas artes, acabando por fazer carreira na pintura. Léo (ou Dujardin), filho de modesta família, abandona a escola, levando uma pacata vida de operário cheia de rotinas e de rígidos rituais. A vida de Dupinceau contrasta com a do seu ex-colega de escola, exibindo um comportamento afectivo caótico, indisciplina e indiferença perante as coisas simples da vida, como o seu jardim. O reencontro entre os dois proporciona-lhes deliciosos momentos de nostalgia, intercalados por momentos de conflito entre as duas formas substancialmente diversas de encarar a vida. Este conflito, que vai evoluindo de uma forma interessante ao longo do filme, alimenta deliciosamente uma narrativa simples, mas intensa.

Duas boas interpretações, as de Daniel Auteuil e de Jean-Pierre Darroussin, num filme cuja principal virtude é a simplicidade. "Conversas com o meu jardineiro" prova como é possível fazer um filme de grande qualidade sem necessidade de se recorrer a grandes orçamentos.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Dawkins explica o darwinismo aos neocons e às criancinhas

"The argument from improbability states that complex things could not have come about by chance. But many people define 'come about by chance' as a synonym for 'come about in the absence of deliberate design'. Not surprisingly, therefore, they think improbability is evidence of design (...) A deep understanding of Darwinism teaches us to be wary of the easy assumption that design is the only alternative to chance (...) Natural selection is a cumulative process which breaks the problem of improbability up into small pieces. Each of the small pieces is slightly improbable, but not prohibitively so. When large numbers of these slightly improbable events are stacked up in series, the end product of the accumulation is very very improbable indeed (...) The creationist completely misses the point because he insists on treating the genesis of statistical improbability as a single, one-off event. He doesn't understand the power of accumulation."
"The God Delusion", Richard Dawkins, Bantam Press, 2006, pag. 114 e 120.


Após este blá blá blá vazio sobre darwinismo tirei do baú das trapalhadas uma ilustração do texto de Dawkins:
"de acordo com o argumento [do desígnio], o mundo natural, em particular o mundo biológico, apresenta uma ordenação que não pode ser explicada por mero acaso. Apresenta design. (...) A Teoria da Evolução não coloca em causa, por si só, o argumento do desígnio, isto porque, na ausência de outra explicação, o mistério da mudança teria igualmente que ser atribuido a um designer."
João Miranda a defender de cernelha o Desenho Inteligente/Criacionismo

terça-feira, outubro 23, 2007

Nem um europeísta aprecia o espectáculo

Já aqui escrevi várias vezes, defendo a adopção de um Tratado Constitucional para a UE, mas o espectáculo que nos tem sido proporcionado ultimamente pelos principais protagonistas das negociações é deprimente.

- A reflexão sobre as derrotas nos referendos holandês e francês foi esquecida (inclusivamente a questão matemática que já aqui expus);
- A abertura de um período de debate na UE aproximando-a aos cidadãos foi só retórica;
- Passar por cima dos NÃO através de votos parlamentares, só vai aumentar a desconfiança contra a UE e a vitimização dos anti-europeístas (Pacheco Pereira é um conhecido exemplo destes últimos);
- Prometer referendos e não os fazer, produz o mesmo efeito referido no ponto anterior;
- Considero infantil alguém congratular-se efusivamente por um tratado se chamar Tratado de Lisboa;
- A organização da Presidência Portuguesa tem sido péssima, coisa que tem tido pouco falado nos media nacionais.

domingo, outubro 21, 2007

João Miranda enterra-se ainda mais, agora o IPCC

"o feito [90% de probabilidades de a subida na temperatura] que José Manuel Fernandes atribui ao IPCC é impossível. Não existe nenhuma teoria científica que permita sustentar a atribuição de probabilidades à origem do aquecimento global. O aquecimento global é um processo deterministico, não é um processo aleatório. Aquele valor de probabilidade mede apenas o grau de confiança que o IPCC tem nas suas conclusões. Reflecte uma opinião do IPCC sobre o seu próprio trabalho. Mas ainda assim uma opinião." João Miranda



Se o João Miranda tivesse lido o relatório do IPCC poupava-nos de mais este chorrilho de disparates. A conclusão do relatório do IPCC sobre a influência da actividade humana no aquecimento global é caracterizada e quantificada de uma forma muito clara:

"The understanding of anthropogenic warming and cooling influences on climate has improved since the TAR, leading to very high confidence that the global average net effect of human activities since 1750 has been one of warming, with a radiative forcing of +1.6 [+0.6 to +2.4] W m–2."
"Summary for Policymakers", pag.3;
Figura TS5 (b) da pag.32 do "Technical Summary"

Nota:
Very high confidence: At least 9 out of 10 chance (> 90%), pag. 22 “Technical Summary”


O gráfico mostra de uma forma claríssima, com mais de 90% de probabilidade, que a radiação (em potência por metro quadrado) retida pelos gases de efeito de estufa emitidos pelo homem (antropogénicos) contribui para o aquecimento do planeta desde 1750. É este o resultado que está na origem da conclusão do IPCC acima referida. Quem investiga conhece a metodologia para se chegar a este tipo de resultado:

1- Os vários cientistas espalhados pelo planeta que trabalham em climatologia submetem a publicação trabalhos que são revistos pelos seus pares, onde se analisa até à equação a validade do trabalho. Os resultados publicados vêm acompanhados de barras de erro e incluem análises estatísticas que dão o grau de confiança no resultado.

2 – Afim de determinar o saldo entre a radiação que escapa e a que é retida pela atmosfera - para lá do mesmo saldo com origem em causas naturais - os investigadores compilam os resultados de todos os trabalhos que quantificam as contribuições de diferentes factores para o saldo de radiação que entra e sai através da atmosfera. Os erros associados a esses trabalhos são tratados através de diversos procedimentos estatísticos rigorosos. O mais básico é a formula de propagação dos erros, outro mais complexo mas mais comum é a formulação dos resultados pela significância (em sigmas) que exprime o grau de confiança no resultado, que pode ser expresso em probabilidades (o relatório do IPCC explica todos estes procedimentos).

3 – Obtém-se deste modo o resultado final de que a actividade humana desde 1750 está a contribuir para o aquecimento global, com um grau de confiança muito elevado, cuja probabilidade é superior a 90%, podendo-se exprimir esse aquecimento em potência absorvida média absorvida de 1,6 W.m-2.

João Miranda, um caso de arrogância e ignorância aguda
Percebemos todos que o João Miranda entrou em histeria bloguística após o anúncio do Nobel da Paz, estado esse que o fez estatelar-se ao comprido enquanto tentava vilipendiar Al Gore.

No entanto, o João Miranda cometeu erros ainda mais graves quando tentou vilipendiar o trabalho dos investigadores do IPCC, o trabalho de pessoas que fazem investigação a sério (não passam o tempo a investigar nos blogues) e que publicam continuamente artigos científicos avaliados pelos seus pares.
A interpretação do João Miranda sobre as conclusões do relatório do IPCC é errada em toda a linha e o pior é que os seus comentários revelam que o jornalista José Manuel Fernandes tem mais cuidado a analisar um assunto científico do que o João Miranda, que assina como investigador em biotecnologia. Pior ainda é que do seu texto se percebe perfeitamente que os conhecimentos do João Miranda sobre estatística são paupérrimos, que não está familiarizado com as técnicas de análise de propagação de erros ou como se pode exprimir resultados em função do grau de confiança. O lixo que escreveu este sábado no DN está embebido da mesma falta de rigor e dos mesmos equívocos encontrados no texto dedicado a JM Fernandes.

sexta-feira, outubro 19, 2007

A Desilusão de Deus

"A Desilusão de Deus" de Richard Dawkins não é apenas uma brilhante obra de divulgação científica, a obra de Dawkins é sobretudo uma obra oportuna do ponto de vista político. Numa época, em que o fundamentalismo religioso voltou a ganhar terreno, em particular através da progressão do islamismo no Médio Oriente e da ascensão ao poder nos EUA de uma das variantes mais fanáticas de protestantismo evangélico, Dawkins interpela-nos com toda a oportunidade sobre os perigos deste evidente retrocesso civilizacional.

Dawkins actualiza a reflexão científica sobre a existência de Deus através dos capítulos "A Hipótese da Existência de Deus" e "Argumentos para a Existência de Deus". A tendência humana para acreditar em entidades superiores ou espirituais é analisada no capítulo "Raízes da Religião" de uma forma muito interessante, do ponto de vista evolutivo da nossa espécie, tal como já o tinha feito Desmond Morris, embora as explicações não sejam totalmente coincidentes entre os dois autores. Ao longo do capítulo "Raízes da Moral", Dawkins desmonta a ideia que a moral só pode existir associada à religião. Através de múltiplos exemplos Dawkins recorda-nos que há mais de dois mil anos que as maiores atrocidades da nossa história têm sido perpetradas em nome de uma miríade de deuses. Neste capítulo Dawkins analisa o papel dos regimes laicos na pacificação da sociedade, sem deixar de caracterizar devidamente o estalinismo e o nazismo. Estaline como produto de um seminário católico e a espiritualidade maniqueísta de Hitler e a sua cumplicidade com o Vaticano.
A intolerância natural da religião é analisada por Dawkins, referindo-se este em particular à hostilidade à homossexualidade, ao modo de vida das sociedades mais abertas, à ciência e às religiões minoritárias. Apesar de Dawkins ser um aberto crítico das facções mais ortodoxas do judaísmo (tal como é crítico da Opus Dei, do catolicismo evangélico fundamentalista e do islamismo radical), Dawkins relembra-nos a história milenar da perseguição ao povo judeu, "os assassinos de Deus", como eram caracterizados.

Na minha opinião o melhor capítulo da obra é o capítulo dedicado à dificuldade que o cidadão comum tem em compreender os problemas cuja escala nos ultrapassa do ponto de vista espacial e do ponto de vista temporal. O muito grande ou muito pequeno, o Universo ou um quark não são conceitos intuitivos tendo em conta as nossas dimensões naturais e o espaço que cabe no nosso campo de visão. Os fenómenos naturais que duram alguns nanosegundos ou os milhares de milhões anos da vida de uma estrela dificilmente são assimilados pela maior parte das pessoas. Por exemplo, parte da dificuldade em compreender o fenómeno do aquecimento global tem origem no conflito entre a escala temporal facilmente intuitiva associada às recentes medições e a menos intuitiva escala temporal do ciclos de glaciações terrestres. A incompreensão da base científica associada a fenómenos cuja escala nos transcende são uma fonte abundante de espiritualismo e de sentimentos religiosos.

Outras passagens interessantes são o desmontar da infantilidade do Desenho Inteligente em poucas páginas, a análise ao negacionismo militante contra o darwinismo, a ciência moderna e o aquecimento global, bem como variadíssimas passagens deliciosas da bíblia onde se relatam genocídios, homicídios e abuso de mulheres e crianças em nome de Deus. Dawkins descreve ainda os evangelhos mais folclóricos, os que foram deixados de lado pelos últimos compiladores das escrituras, que descrevem Jesus Cristo em criança abusando dos seus poderes divinos como se fosse um mágico, ora transformando os seus colegas em cabras ora ajudando o seu pai nos trabalhos de carpintaria aumentando miraculosamente as dimensões das peças de madeira.

Livro Klepsýdra ***** (5 estrelas)

Principais ligações ateístas (e não só) fornecidas por Dawkins:
American Atheists
Atheist Alliance
Freedom From Religion Foundation
James Randi Educational Foundation

quinta-feira, outubro 18, 2007

Bernard-Henri Lévy no Esprits Libres



Hoje pelas 22:40 na TV5, Bernard-Henri Lévy (BHL) será o convidado de honra do excelente programa de literatura Esprits Libres. BHL apresentará o seu novo livro "Ce grand cadavre à la renverse" (Grasset), onde reflecte sobre a esquerda francesa e a esquerda europeia.

Confesso que já vi o programa, disponível na íntegra no sítio da TV5. O debate com BHL é como deve ser, acutilante, sem concessões, abrangendo uma variedade de assuntos que vão desde as recorrentes acusações à vida mundana do filósofo até à sofisticação da formulação teórica do que é uma política realmente de esquerda, passando por questões como o Darfur ou o racismo. BHL sai-se muito bem na minha opinião. O livro parece ser muito interessante. Mais mês menos mês aqui se comentará a última obra de BHL.

terça-feira, outubro 16, 2007

As asneiras do Rui Moura, do João Miranda e do Insurgente

É o que dá andar a fazer copy-past frenéticos de sites de pseudo-ciência sem ler com atenção e com rigor o que está escrito nos relatórios científicos ao compará-los com o filme do Al Gore. Não vi o filme, mas a análise a "Uma Verdade Inconveniente" fundamentada cientificamente por alguns dos melhores especialistas de climatologia pode ser lida aqui:

http://www.realclimate.org/index.php/archives/2007/10/convenient-untruths/

A conclusão:
"Overall, our verdict is that the 9 points are not "errors" at all (with possibly one unwise choice of tense on the island evacuation point). But behind each of these issues lies some fascinating, and in some cases worrying, scientific findings and we can only applaud the prospect that more classroom discussions of these subjects may occur because of this court case."

A análise dos 9 pontos é clara como a água para qualquer leigo, não deixa muito espaço às habituais fugas-para-a-frente negacionistas e mostra bem a deturpação deliberada da leitura que foi feita do acordão do juri inglês, do filme do Al Gore e das conclusões do IPCC. Leiam e comparem com o que foi martelado insistentemente pelo blogue negacionista do Rui Moura, pelo João Miranda (esta é muita gira) e pelo Insurgente.

A angústia do negacionista na hora do Nobel

O Nuno descreve e fundamenta devidamente a precipitação nos negacionistas do costume perante o anúncio do Nobel da Paz. Fomos bombardeados com mais um rol de asneiras e desta vez das grandes. Lá iremos, porque há disparates que são inadmissíveis para quem põe títulos à frente do nome.

Mundo de Aventuras XLIV


San Cristobal de las Casas, Chiapas, México, 2005

Mundo de Aventuras XLIII

segunda-feira, outubro 15, 2007

A superstição é imiscível com a ciência

É curioso ver o Insurgente tentar atirar-se a alguém evocando estar do lado da ciência, e é curioso por duas razões. Em primeiro lugar porque o Insurgente é um blogue que pisca o olho à superstição com muita facilidade e em segundo lugar porque em geral a ciência é apresentada pelo Insurgente de uma forma muito trapalhona.

A gama de superstições com que o Insurgente simpatiza vai desde a Nossa Senhora de Fátima ao Desenho Inteligente. Ora, a charlatanice do Desenho Inteligente é naturalmente rejeitada pelo Vaticano, quer isto dizer que é pecado um católico adorar o bezerro de ouro do desenho inteligente (1º e 2º mandamento, Êxodo 20.3 e 20.4). Tenham cuidado, o inferno espreita os pecadores! É sabido também que o Desenho Inteligente é uma fabricação de algumas seitas evangélicas americanas mais radicais. Se o Insurgente é um blogue de inspiração católica evangélica fundamentalista, retiro o que disse e ficamos perfeitamente esclarecidos.

Nas minhas esporádicas visitas ao Insurgente deparei-me com entradas sobre o problema do aquecimento global absolutamente trapalhonas. Confunde-se o que é global com o local, por exemplo um fenómeno climático local que não é estatisticamente significativo (nem na duração nem na frequência) é transformado em global (há resmas de entradas destas no Insurgente). É como se o caríssimo leitor chegasse à conclusão que não há aquecimento global porque abriu o frigorífico e ficou com frio… Esta outra entrada é de uma ignorância que dava chumbo na escola secundária. Nesta recorrem a um investigador do IPCC para fazer valer as suas ideias e nesta recorrem a um trapalhão para descredibilizar o IPCC. O Insurgente é assim, é uma trapalhada sem fim!

Há dois conceitos essenciais que o Insurgente tem que assimilar:

1) a ciência não é miscível com a superstição. Ou deixam a superstição de lado ou assumem-se definitivamente como um blogue de superstições e crendices, mas nesse caso é melhor deixarem de falar de ciência, porque perdem a toda credibilidade.
2) quando se faz referência à ciência deve-se ter o cuidado de recorrer a verdadeiro trabalho científico como o do IPCC e não andar à pesca de sítios Internet, de livros e de blogues que escrevem aquilo que querem ouvir. É que isso é muito fácil, a Internet é tão vasta que encontramos todas as barbaridades possíveis e imaginárias escritas com a maior das convicções em nome da ciência, mas isso não faz delas verdadeira ciência.

Os assassinos de Deus… lembram-se?

Os assassinos de Deus eram os judeus, segundo a Igreja Católica. E durante séculos foram assassinados muitos judeus (ex: massacre de 4 mil judeus em Lisboa em 1516) e muitos homens que nem judeus eram em nome desta acusação divina.
Leiam agora esta passagem do Insurgente:

"Um povo que foi também vítima de um século que quis, por momentos, matar Deus"

O Insurgente faz frequentemente uso deste léxico, mas com o cuidado de não derrapar para as velhas perseguições (a actual conjuntura não permite), usa-o para as novas perseguições, a matilha anda sedenta de sangue, por exemplo o lobby judeu é substituído pelo lobby gay, acusado e julgado sumariamente com a mesma convicção, o mesmo fanatismo e a mesma intolerância de outrora.

É paradoxal alguém ser acusado de matar algo que não existe, mais paradoxal é quando se mata os que são acusados de matar algo que não existe, é paradoxal mas foi um dos desportos preferidos da Igreja Católica durante séculos...

sexta-feira, outubro 12, 2007

IPCC

Aplauso para o árduo trabalho do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC). Durante quase uma década, mais de 1000 investigadores do IPCC oriundos de 130 países diferentes levantaram-se todas as manhãs para dedicar todo o seu tempo de trabalho ao estudo do clima, longe dos holofotes e do mediatismo, para nos oferecer um rigorosíssimo relatório sobre as alterações do clima posteriormente revisto por cerca de 2500 dos melhores investigadores especialistas em climatologia. O Nobel é muito bem merecido.

Dá-me um certo gozo, admito
Não posso negar que esbocei um sorriso malandro quando li as reacções dos astrólogos de serviço da causa negacionista. Numa altura em que até Bush e Lomborg admitem o problema do aquecimento global, eles permanecem estóicos, firmes e hirtos a denunciar a conspiração mundial da ciência contra a sua ideologia. Requiescat in Pace.

Excelente reportagem sobre transgénicos



A France 2 produziu uma excelente reportagem sobre a problemática dos transgénicos. Sem piscar o olho a apoiantes ou a detractores, a reportagem busca a informação essencial: os benefícios e os riscos à luz das respostas que a ciência tem para oferecer (para ver a emissão integral clicar na linha: "Voir ou revoir cette émission en intégralité").
Curiosamente, esta reportagem mostra como a acção dos Eufémios foi excessivamente mediatizada em Portugal quando comparada com o activismo que se pratica no resto do mundo. Não quero com isto dizer que apoio este tipo de acções.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Como combater o tele-lixo

É simples. Basta memorizar (ou escrever num papelinho) a publicidade que passa durante os circo-jornais da TVI, da SIC generalista e da RTP e a publicidade que passa entre as telenovelas e os programas de variedades da vida real, depois quando for às compras, compre os produtos concorrentes das marcas que fazem publicidade à hora do tele-lixo.