quinta-feira, janeiro 25, 2007

Babel

Durante as primeiras cenas de "Babel" em que interagem personagens de diferentes culturas pensei para comigo: "já vi isto, já me aconteceram cenas destas". O filme seguia e ía revendo mais pormenores das minhas viagens, alguns nos mesmos locais, EUA, Tijuana e México, outros ocorreram em locais diferentes mas onde as reacções das pessoas foram muito parecidas às reacções das personagens de "Babel" de Alejandro Iñárritu. O mérito de Iñárritu é o de nos mostrar os habitantes deste mundo sem filtro. Todas as personagens receiam o encontro com o outro, o fosso entre códigos de comunicação e de códigos de vida é tão profundo, que se equipara ao que separa Yasujiro , uma surda-muda japonesa, do mundo "exterior". A coca-cola light sem gelo, a náusea dos turistas na aldeia marroquina ou a matança da galinha na festa mexicana, rimam com o mundo, o mundo das encruzilhadas dos povos.
Em "Babel", o medo faz a acção, faz descarrilar uma personagem para as armadilhas lançadas pelos fantasmas de outra personagem de uma cultura diversa. Mas "Babel" mostra também como as relações de dominação continuam bem presentes, apesar da abolição da escravatura e das cartas dos direitos humanos. Essa dominação está bem patente na forma como Richard nega a autorização para que a empregada mexicana compareça no casamento do seu filho ou como a polícia marroquina lida com os pastores.
"Babel" representa um mundo frágil, como o mundo da parábola da borboleta que bate as asas no pacífico e desencadeia uma tempestade noutra parte do mundo. Em "Babel", não é bem uma borboleta que desencadeia a tempestade, é uma carabina japonesa levada para Marrocos.

Filme Klepsýdra ***** (5 estrelas)

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