quinta-feira, outubro 29, 2009

Traders afirmam que nada mudou na bolsa

Neste excelente debate organizado pelo canal ARTE dois traders, Marc Fiorentino e Dirk Müller, falam sobre a crise, as suas origens, as medidas implementadas e o futuro da economia. O mais impressionante é ouvir estes homens que estavam na primeira linha da crise afirmarem categoricamente que o dinheiro que foi emprestado pelos estados para salvar os bancos foi utilizado para voltar a praticar o mesmo tipo de especulação que já existia antes, mas agora no processo de reembolso dos estados pela banca (parte 1, depois do minuto 6). Vão mais longe e dizem que hoje é ainda mais fácil praticar actividades especulativas e ainda mais selvagens do que antes. Os discursos de controlo das actividades bancárias são classificados de hipócritas, dado que na prática os estados não têm acesso à informação das operações especulativas mais agressivas.
Fiorentino afirma que é errado os governos transmitirem a mensagem que tudo se resolverá em seis meses, dado que o lastro do somatório de erros cometidos no mundo financeiro demorará pelo menos uns três ou quatros a ser sanado (parte 2, minuto 6).

Parte 1



Parte 2


quarta-feira, outubro 28, 2009

Juncker a Presidente

Jean-Claude Juncker manifestou corajosamente a sua disponibilidade para a presidência da União Europeia. Apesar de Juncker ser de direita e apesar de naturalmente não partilhar de boa parte das suas ideias políticas, como a União Europeia votou num Parlamento Europeu à direita e como não existem eleições directas para a presidência da União Europeia temos que admitir que o Presidente da UE seja também de direita. No entanto, Juncker tem uma qualidade fundamental que Blair - o outro candidato que na prática também é de direita - não tem. Juncker é um genuíno europeísta, interessa-se pela Europa, fala da Europa, pensa na Europa e sobretudo pensa numa Europa que não pode estar de mal com o mundo, uma Europa que tem que ser parceira da África, da Ásia, da América Latina e não polícia ou capataz a mandato dos EUA.

terça-feira, outubro 27, 2009

A Má Educação: Viriato

Na obra "Os Lusitanos no tempo de Viriato" de João Inês Vaz (Ed. Ésquilo 2009) podemos encontrar mais um exemplo da miséria do ensino no tempo do Estado Novo e do espírito doentio desses tempos:

"Nos inícios do século XX, Mendes Correia foi uma das figuras mais acérrimas defensoras da ligação directa entre Portugueses e Lusitanos (...) na afirmação de uma raça portuguesa distinta das outras conhecidas, chegando mesmo a considerar um tipo de hominídeo próprio do território português, o selvagem homo taganus que teria vivido nas margens da Ribeira de Muge. Ora, o que hoje se sabe desta população dos finais do Neolítico/Mesolítico é que (...) as análises antropológicas nada revelam de diferente em relação a outros homens do mesmo período neo/mesolítico.

O Estado Novo fez da questão da raça uma ideia fundamental do orgulho nacional e por isso era importante manter e propagandear o mais possível esta ideia da relação umbilical com os Lusitanos. A História ensinada nas escolas primárias, Liceus e Escolas Industriais transmitia a ideia da formação da pátria a partir da Lusitânia, enaltecia-se a bravura dos Lusitanos e apresentava-se a dedicação de Viriato à Pátria como exemplo a seguir" (pag. 200 e 201)

segunda-feira, outubro 26, 2009

Vaticano presta homenagem a Galileu

(publicado no portal Esquerda.net)

No âmbito do Ano Internacional da Astronomia, o Vaticano em colaboração com o Instituto Nacional de Astrofísica italiano inaugurou nos Museus do Vaticano uma exposição intitulada "Astronomia e Instrumentos, a herança histórica italiana 400 anos depois de Galileu". A exposição celebra os 400 anos de observações astronómicas desde as primeiras observações realizadas por Galileu Galilei em 1609. Na exposição foi reservado um espaço dedicado apenas aos instrumentos utilizados por Galileu, entre os quais se encontra o telescópio rudimentar através do qual Galileu realizou as suas primeiras observações do céu. Nesse espaço é exposto também o manuscrito original de "Sidereus Nuncius", o documento onde Galileu registou as suas primeiras descobertas astronómicas.

Esta iniciativa do Vaticano tem um significado muito espacial, dado que a Igreja rejeitou a verificação do modelo heliocêntrico realizada por Galileu, julgando-o num processo conduzido pela Inquisição. Como resultado desse processo Galileu foi forçado a renunciar às suas extraordinárias descobertas no dia 22 de Junho de 1633. Nesse dia, de joelhos, Galileu proferiu as seguintes palavras perante o tribunal:

"Eu, Galileu, filho do falecido Vincenzio Galilei, (...) depois de me ter sido legalmente feita por este Santo Ofício uma injunção no sentido de que deveria abandonar por completo a falsa opinião de que o Sol é o centro do Mundo e imóvel, e de que a Terra não é o centro do Mundo e se move (...) juro que de futuro nunca mais voltarei a dizer ou a afirmar verbalmente ou por escrito alguma coisa capaz de causar similar suspeita contra mim."

Só em 1992 o Vaticano viria a retratar-se sobre o seu erro, quando o Papa João Paulo II qualificou o processo de Galileu como um erro resultante de uma "trágica incompreensão mútua". Sobre esta exposição, o arcebispo Gianfranco Ravasi, responsável máximo do Vaticano pela cultura, declarou que esta é uma ocasião para mostrar a capacidade da Igreja em reconhecer os seus erros.

domingo, outubro 25, 2009

50 anos de Astérix e Obélix



Um dia perguntaram a René Goscinny qual tinha sido a melhor recompensa pela sua carreira na banda desenhada. Goscinny respondeu que um dia viajava de metro e entrou na sua carruagem um velho senhor com um álbum do Astérix debaixo do braço que se sentou à sua frente. De seguida, abriu o álbum e começou a lê-lo. A um dado momento o senhor desatou às gargalhadas dentro do metro e o descontrolo era tal que o senhor não conseguia parar de rir, ao ponto de ir às lágrimas. Numa dada paragem, o senhor abandona a carruagem de semblante radiante. Goscinny confessa ter vivido naqueles breves minutos o melhor momento da sua carreira.

quarta-feira, outubro 21, 2009

Odisseia no Espaço

Eis a capa definitiva da revista Cais dedicada inteiramente à astronomia editada por mim e pela Paula Stella Teixeira do ESO. A compra da revista para além de ajudar a causa do combate à toxicodependência, é composta por uma série de artigos sobre temas pouco comuns sobre astronomia feita em Portugal e sobre o impacto desta disciplina na sociedade. A ler e divulgar.

Revista Cais Especial Astronomia

A próxima edição da revista Cais é completamente dedicada à astronomia, em honra ao Ano Internacional da Astronomia. A edição é da minha autoria e da Paula Stella Teixeira do ESO. Dividimos a revista em três secções passado, presente e futuro. Abaixo segue o texto do editorial:

Esta edição especial da Revista CAIS sobre a astronomia portuguesa surge no âmbito do Ano Internacional de Astronomia organizado pela Comissão Nacional do Ano Astrónomico, que é presidida pelo Professor Doutor João Fernandes da Universidade de Coimbra. O conteúdo da revista está organizado em três partes, nomeadamente, o passado, presente, e futuro da astronomia portuguesa.

A astronomia teve um papel importante no período áureo da história de Portugal, na epoca dos Descobrimentos, tendo-se enraizado nas principais instituições académicas portuguesas, através da construção dos Observatórios de Coimbra e de Lisboa, contribuindo para a modernização da universidade portuguesa.

Actualmente Portugal faz parte de duas organizações internacionais, a ESA e o ESO, que têm fomentado a investigação e desenvolvimento de instrumentação e tecnologia espacial. Seguindo a tradição da Revista CAIS, tentamos igualmente abordar a relação da astronomia com a sociedade, de como o saber está hoje ao alcance e ao serviço da cidadania: através da tecnologia usada no quotidiano por exemplo e através de actividades que envolvem o ensino e divulgação astronómica nas escolas e centros de Ciência Viva. Quanto ao futuro: a comunidade astronómica Portuguesa é relativamente jovem, em que a maior parte dos investigadores concluíram o doutoramento há menos de 15 anos. O potencial para crescimento é enorme, há que saber gerir bem os recursos e as oportunidades que temos actualmente para poder sustentar o bom desenvolvimento da comunidade.

Através deste número da revista Cais esperamos que o leitor tenha uma nova percepção de uma disciplina frequentemente considerada distante e cara para o contribuinte. Os exemplos do passado e do presente mostram que a astronomia tem contribuído fortemente para melhorar a qualidade de vida - os benefícios superam largamente os custos envolvidos na investigação - e mostram sobretudo que a astronomia contribuiu decisivamente para mudar a noção que o homem tinha de si próprio e do seu lugar no Universo. Mas a aventura não acaba aqui, os futuros telescópios, missões espaciais e o trabalho das futuras gerações de cientistas continuarão certamente a deslumbrar-nos e a alargar os horizontes do conhecimento da humanidade.

domingo, outubro 18, 2009

Reflectir como viver melhor

Neste novo número especial da Courrier International podemos ler uma recolha de artigos dedicados à reflexão sobre o nosso modo de vida: o que fazemos de errado e o que podemos mudar para melhorar a nossa qualidade de vida. No seu conjunto as propostas vão no sentido do "produzir e consumir menos para viver melhor", já abordado num dossier especial anterior da edição convencional da mesma publicação. Aqui a ligação para o sumário desta edição.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Havel sobre Klaus

Vale a pena ler as justas críticas de Vaclav Havel - o maior combatente contra o totalitarismo comunista da Checoslováquia - ao actual presidente Vaclav Klaus sobre os expedientes anti-democráticos de que este tem feito uso para impedir a ratificação do Tratado Simplificado. Klaus é aquilo que se pode designar como um órfão do Bushismo, um anti-europeísta primário, ultra-liberal, que respeita muito pouco a democracia e as instituições democráticas, muito na linha populista dos irmãos Kachinsky da Polónia.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Bendit em entrevista à L'Européen

A não perder a entrevista deste mês de Cohn-Bendit à L'Européen. Novas ideias para a Europa, novas ideias para o desenvolvimento e a qualidade de vida, novas ideias para sociedades modernas, são propostas por um homem que não perdeu a capacidade de deslumbramento e de apreciar genuinamente a intervenção política.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Arroz de Cabidela

O homem que lançou a mais insólita e efémera campanha publicitária de turismo, a campanha "Visite a Lusitânia", que fez sair do erário público largos milhares de euros directamente para uma empresa que prestou um serviço dúbio ao cidadão e que acabou por revelar ligações familiares a esse mesmo homem, Paulo Pereira Coelho, arguido do executivo camarário, parece que foi "malhar" no presidente Duarte Silva na última reunião de câmara. Não há limites para o desplante. Homens como este deveriam estar fora da política.

Partir



"Partir" de Catherine Corsini é a história de Suzanne (Kristin Scott Thomas) entre uma relação quase perfeita que se esgota e um novo amor onde quase tudo corre mal. Do casamento Suzanne guarda a almofada financeira que lhe permite viver sem preocupações, embora sem emoções e autonomia. A chegada de Ivan (Sergi Lopez), um tarefeiro espanhol, vem dar um novo fôlego à sua vida amorosa. No entanto, os deuses estão contra Suzanne e Ivan, e cada passo dado por Suzanne para se aproximar de Ivan é acompanhado por um rude golpe do seu marido e da sua rede de influencias. A cada dificuldade acrescida o sentimento entre Ivan e Suzanne são reforçados, mas o abismo económico acentua-se ao ponto de aceitarem a exploração laboral mais árdua para conseguirem sobreviver juntos. Até que o ponto de ruptura é atingido e ambos decidem tomar uma decisão...
Excelente interpretação de Scott Thomas, Sergi Lopez (um dos meus actores preferidos) e Yvan Attal.

terça-feira, outubro 13, 2009

Indignações sobre os candidatos figueirenses

Confesso que fiquei indignado com a preparação dos candidatos à Câmara da Figueira revelada durante os debates. Aqueles indivíduos estavam a candidatar-se ao governo de um município com cerca de 60 mil habitantes, não se estavam a candidatar à direcção de uma filarmónica ou de uma confraria da lampreia, estavam a candidatar-se a algo que envolve uma grande responsabilidade.

Como nunca participei em cargos municipais tratei de me preparar o melhor que pude, li consultei, fiz visitas, falei com especialistas, etc. Mas assim que começou aquele debate tive a sensação de voltar para a escola primária, lembrei-me de alguns colegas cábulas que iam para um exame sem estudar nadinha e que mesmo assim esperavam passar. Nos debates houve dois casos flagrantes de falta de preparação: a senhora do CDS e o Javier Vigo do MMS. O caso do Vigo é mais grave porque deu ar de cábula e de irresponsável, reforçando a péssima imagem que já todos temos da Universidade Internacional. Mas o candidato do PS e futuro presidente também não esteve brilhante quer nos conhecimentos sobre a Figueira quer na estruturação e na apresentação de ideias. Espero que tenha sido só nervosismo e que na calada do seu gabinete seja muito melhor do que aquilo que mostrou. Pode-se gostar mais ou menos destes políticos mas apenas Duarte Silva e Daniel Santos falaram com alguma escorreiteza sobre política camarária. Mas fiquei desiludido com o nivelamento por baixo da preparação dos candidatos. No segundo debate, sem estes dois intervenientes, ainda foi pior. Quem deu mais luta foram os jornalistas...
Suspeito que os figueirenses vão ter muito com o que se preocupar nos próximos quatro. Foi bom termos erradicado aquela forma de fazer política que representava Duarte Silva, mas temo que a política do próximo executivo possa reflectir aquela neblina discursiva que ouvimos no Casino.

PS- Antes do debate do Casino começar espreitei para as cábulas de alguns colegas de debate e retive dois ou três de sete tópicos. Curiosamente a primeira pergunta de sete do debate - eu era o primeiro a responder - correspondia ao tópico número 1 de uma dessas cábulas. Isto repetiu-se para outros tópicos. Supostamente ninguém deveria conhecer as perguntas, mas nem assim foram capazes de dar respostas de jeito. Garanto-vos que me senti em Vila Nova da Rabona.

segunda-feira, outubro 12, 2009

Má estratégia autárquica

Há que reconhecer que a estratégia autárquica do Bloco não resultou. Confiou-se demasiado nos bons resultados das europeias e das legislativas - para as quais a estratégia foi muito boa - que só por si bastariam para fazer crescer por defeito o BE a nível autárquico. Assim não foi. Quem andou no terreno debateu-se contra candidaturas independentes e partidárias que iniciaram a campanha meses antes das eleições, fazendo uso de artilharia pesada, outdoors que apresentavam candidatos desde as câmaras às freguesias, proliferação de propaganda móvel, festins de porco no espeto e doses industriais de ranchos e de música pimba. O Bloco deveria imitá-los? Não. Mas deveria apresentar-se a tempo com os meios a que habituámos os nossos eleitores, visto que no terreno os nossos candidatos já se mobilizavam, mas sem meios, sem material de propaganda. Isso traduziu-se em dificuldade em atrair gente nova, em particular os nossos votantes das legislativas que se perguntavam se existíamos a nível autárquico. A estratégia de uma campanha reduzida a 15 dias, vaga e efémera, é a receita contraria do que nos faz subir.
É certo que estamos a subir muito rapidamente e os meios não acompanham o número de novos aderentes e simpatizantes, mas o Bloco precisa de reflectir seriamente sobre a sua estratégia autárquica.

segunda-feira, outubro 05, 2009

SIM

O SIM ao Tratado Simplificado na Irlanda foi um passo importante para desbloquear a UE. A esmagadora maioria dos europeus, e sobretudo a esquerda, votou SIM ao Tratado. Fez-se justiça. Já aqui antes expus a falsidade democrática e a quase impossibilidade matemática de os referendos país a país poderem exprimir a verdadeira vontade dos Europeus. Espero que tenham aprendido a lição e que no futuro as constituições nacionais sejam alteradas para permitir referendos pan-europeus, esses sim verdadeiramente democráticos.

Má política

Concordo com Melo Biscaia e com o António Agostinho sobre os cartazes da JS. Para além de reflectirem bem no que se transformou a JS local, estes cartazes fazem uso de uma violência inaceitável ao expor a fotografia de outrem sem o seu consentimento, independente de ser mais ou menos verdade o que denunciam os cartazes e do gosto mórbido pelos outdoors uni-pessoais que infestam a cidade.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Falta de hábitos de transparência política

As declarações de João Ataíde sobre o processo das listas do BE revelam a falta de hábito que há na política local em lidar com a transparência política. Em vez de se enredar em declarações que pouco o ajudam, o candidato do PS deveria desde o início deixar bem claro qual foi a sua relação com o Tribunal da Figueira. Não precisaria chegar ao detalhe dos nomes das pessoas que estagiaram com ele, mas deveria clarificar as suas funções e a sua relação com os juízes que hoje analisam os processos dos seus adversários políticos quando passou pelo tribunal da Figueira.

Para além de ter perdido uma oportunidade para clarificar, não resistiu a fazer o que não deveria ter feito, isto é, a tomar partido pelo tribunal no processo do BE. Para quem veio recentemente da magistratura para a política não está a ajudar nada a garantir a separação entre poder judicial e político, um dos pilares da democracia.