quarta-feira, junho 30, 2010

A minha selecção sobre a selecção

"...A nossa selecção de futebol é muito inferior à espanhola. A nossa selecção de jornais também. A de colunistas nem se fala, embora seja difícil imaginar com quem se pode comparar um imbecil ilustrado como VPV, um católico ultramontano como César das Neves ou um diletante como MST. Se nos compararmos, perdemos em quase tudo: na poesia, na novela, na viola de gamba, na saúde oral e no tamanho dos narizes. Ontem viu-se, quando as câmaras focavam a assistência: uma mulher guapíssima passando bâton pelos lábios, alternava com um broeiro lusitano, atarracado e hirsuto."
Luís Januário no blogue A Natureza do Mal

terça-feira, junho 29, 2010

Cratera de Magalhães



Uma fotografia recente da Cratera de Magalhães em Marte tirada pela Mars Express da ESA. Tem cerca de 21 mil quilómetros quadrados, mais ou menos a superfície da Eslovénia.

segunda-feira, junho 28, 2010

Portugueses pouco interessados na ciência

(publicado no portal Esquerda.net)

O Eurobarómetro divulgado esta semana sobre a atitude dos europeus relativamente à ciência e à tecnologia revela indicadores inquietantes sobre a atitude dos portugueses em relação à ciência. O inquérito abrange várias vertentes da ciência: o interesse dos cidadãos, a imagem da ciência, as suas implicações na saúde e no ambiente, o seu impacto no quotidiano, a utilização de cobaias, a responsabilidade dos cientistas e dos políticos e a eficácia das políticas científicas.

As respostas dos portugueses destacam-se pela negativa em particular nas questões que dizem respeito ao interesse e ao nível de informação sobre as novas descobertas científicas. Apenas 14% dos portugueses declararam estar muito interessados nas novas descobertas. Na UE (União Europeia), apenas búlgaros e lituanos declaram menos interesse. Apenas 3% dos portugueses declararam estar bem informados sobre as novas descobertas científicas e tecnológicas, sendo este o pior resultado de toda a UE. Aqui identifica-se claramente a responsabilidade de parte da nossa imprensa de grande tiragem e da nossa televisão que exploram constantemente o voyeurismo, o sensacionalismo e o baixo nível educacional dos portugueses.

Apesar de 72% dos europeus declararem que o estado deve financiar a investigação científica, inclusivamente aquela que não oferece resultados imediatos, em Portugal apenas 60% declararam concordar com o financiamento estatal da investigação em contraste com 9% que se declararam contra (9% é também a média dos europeus que são contra). Na UE só a Áustria demonstra menor concordância do que Portugal relativamente ao financiamento estatal da investigação com 48% dos austríacos a favor e 25% contra.

Apesar deste inquérito revelar uma grande confiança e reconhecimento dos europeus relativamente à ciência, em particular no domínio da saúde, demonstra também que os mesmos europeus revelam alguma desconfiançasobre os cientistas em dois casos específicos: quando o trabalho científico é demasiado complexo para os conhecimentos do cidadão comum e quando a indústria financia a investigação. O primeiro problema poderá ter uma boa resposta através de uma eficaz divulgação científica. O segundo requer sobretudo medidas de maior transparência possível na participação da indústria na investigação.

quinta-feira, junho 24, 2010

Foi você que pediu um campo de golfe?

No distrito de Coimbra e arredores estão previstos construir mais de oito campos de golfe. Há assim tanta procura de golfe? Não. O golfe traz riqueza às populações circundantes? Não, veja-se por exemplo o caso do golfe de Marvão que era uma coqueluche do golfe nacional quando foi construído há cerca de 10 anos. Para que serve então tanto campo de golfe? Serve para inflacionar o preço de lotes de apartotéis e apartamentos. O campo de golfe é simplesmente uma estrutura construída na envolvente para valorizar o betão. Se alguém vai lá jogar ou não pouco importa, o que interessa é valorizar as acções na bolsa das empresas que financiam os projectos (a maior parte das vezes através de empréstimos, sem gastarem um cêntimo). Se as imobiliárias e intermediários não venderem os apartamentos ou forem à falência pouco importa, as empresas financeiras ganham sempre deixando o terreno queimado, mais precisamente betonizado, atrás de si. Os seus quadros recebem grandes bónus pela operação e as nossas cidades ganham bairros fantasma onde poucos se aventuram a investir.

quarta-feira, junho 23, 2010

A origem do mal

Em 2003, Robert Lucas [...] Prémio Nobel da Economia em 1995, fez o discurso de abertura da reunião anual da American Econimic Association. Depois de explicar que a macroeconomia surgiu como resposta à Grande Depressão, declarou que chegara o momento de seguir em diante: "O problema fulcral de prevenção da depressão foi resolvido em todos os seus aspectos práticos".
Paul Krugman (Nobel da Economia de 2008) em "O Regresso da Economia da Depressão e a Crise Actual", Ed. Presença, pag.15

segunda-feira, junho 21, 2010

domingo, junho 20, 2010

O homem que criou Blimunda e Baltazar

Num romance que é também uma bela homenagem a uma das maiores invenções realizadas por português, a Passarola, existem estas duas personagens que se amam: Blimunda e Baltazar. Baltazar é queimado na fogueira da Inquisição mas a sua alma não vai para o céu, vai para o coração de Blimunda que é onde a sua alma pertence.
Saramago não foi para céu, estará certamente num lugar mais aconchegado.

quarta-feira, junho 16, 2010

38 anos para reconhecer a barbárie

Acho interessante quando sou confrontado com opiniões que dão o Reino Unido como uma democracia exemplar. Ontem, 38 anos depois, um Primeiro Ministro britânico reconhece finalmente o bloody sunday, um massacre de cidadãos que manifestavam desarmados por um regimento de para-quedistas britânicos. Isto não é aceitável em democracia e ainda muito menos numa democracia exemplar.

Quem acompanha a política britânica sabe que assim que se passa do território da Inglaterra para os restantes territórios do Reino Unido os atropelos à democracia são frequentes. A não reunificação da Irlanda - a reunificação era uma promessa dos acordos de independência - é uma mancha na história da Europa que continua a ser alimentada por hooligans orangistas ao serviço de Sua Majestade. Para cumulo, o contribuinte europeu ainda tem que pagar um programa de pacificação da Irlanda do Norte: o programa PEACE II. Ironicamente, o contribuinte europeu tem a seu cargo os custos da exemplaridade da democracia britânica.

terça-feira, junho 15, 2010

Que peixe comer?

Em plena época de grande consumo de pescado, a página Que peixe comer? oferece muita informação importante sobre o peixe que comemos e dá alguns conselhos sobre um consumo que permita a sustentabilidade das nossas reservas piscícolas.
Parece que esta página irritou muito Miguel Sousa Tavares, eis um bom cartão de visita para Que peixe comer?

segunda-feira, junho 14, 2010

Senado Americano rejeita resolução contra regulação ambiental

(Publicado no portal Esquerda.net)
Por 53 votos contra e 47 votos a favor, na passada quinta-feira, o Senado Americano rejeitou uma resolução do Partido Republicano que impediria a regulação pela Agência de Protecção do Ambiente das emissões de gases com efeito de estufa. Apesar de entre os votos a favor se contarem alguns votos democratas, as recomendações dos cientistas foram levadas em conta em detrimento de teorias da conspiração sem qualquer fundamento científico, como foi o caso do chamado Climategate, movidas por interesses económicos de grupos de pressão ligados ao sector petrolífero.

O Senado Americano confirmou aplicação da decisão de Dezembro passado que permite a regulação das emissões do sector automóvel e do sector de produção de electricidade com o objectivo de lutar contra o aquecimento global. A Agência de Protecção do Ambiente elaborou nova legislação que obriga as centrais eléctricas, a indústria pesada e as refinarias de petróleo a requerer permissões de emissão de gases com efeito de estufa. Esta legislação requer também que os novos automóveis consumam menos gasolina e gasóleo e emitam menos dióxido de carbono.

Barack Obama declarou que faria uso do direito de veto caso o Congresso adoptasse a resolução republicana. Obama felicitou o Senado declarando que a decisão dos senadores permitirá aos Estados Unidos iniciar a transição para uma economia baseada em energias renováveis, criar novos postos de trabalho, reforçar a segurança do país e garantir um ambiente sustentável para as gerações futuras. Neste sentido e determinado pelos efeitos nefastos da recente maré negra ocorrida no Golfo do México, Obama prometeu a preparação de um novo pacote de medidas mais amplas a apresentar ao Congresso nos domínios da energia e do combate às alterações climáticas.

quinta-feira, junho 10, 2010

Bernard-Henri Lévy sobre o assalto ao navio turco

Estou longe de concordar a opinião de Bernard-Henri Lévy sobre o assalto israelita ao navio turco, está demasiado envolvido para produzir uma reflexão desapaixonada. Mas vale a pena ler o conjunto de fantasias que se apregoam sobre Israel desmontadas por Lévy. Obviamente que a propaganda de Israel é muito mais eficaz a denegrir a Palestina, mas o que para mim é evidente é que entre a extrema-direita israelita e a extrema-direita palestina a diferença está apenas nos meios. O fanatismo é semelhante. Já aqui escrevi, só vejo ali uma solução possível que passe pela união das esquerdas israelitas e palestinianas.

quarta-feira, junho 09, 2010

Sobre o novo governador do Banco de Portugal

O discurso do novo governador do Banco de Portugal evidenciou alguma intenção de melhorar os processos de regulação do sistema financeiro. Mas não chega, é muito pouco para tanto que se perde. É necessário mais pessoal, mais inspectores, gente formada em crime económico, um maior orçamento e sobretudo novas regras de regulação. Esta deveria ser a prioridade máxima de combate à crise, mas parece continuar a ser tratada como um assunto secundário. Por muito que se aperte o cinto, se não se apostar na regulação da economia o risco de que a crise se repita é grande.

Concordo com o ordenado do governador Banco de Portugal e defendo que os ordenados dos reguladores devam ser elevados, acima dos limiares de corruptibilidade. Convém não esquecer as lições do passado (ENRON, Lincoln Savings, Goldman Sachs, etc.) e que os reguladores lidam com os criminosos mais ricos e mais poderosos do mundo.

segunda-feira, junho 07, 2010

ESA e Rússia simulam viagem a Marte

(publicado no portal Esquerda.net)

Iniciou-se no passado dia 3 de Junho a experiência Mars 500 cujo objectivo é simular um voo tripulado ao planeta Marte. A Mars 500 é dirigida pelo Instituto de Problemas Biomédicos da Rússia em estreita colaboração com a Agência Espacial Europeia, contando ainda com participação internacional de instituições científicas de países como a China ou os EUA. A “tripulação” da Mars 500 é composta por seis elementos: três russos, um italiano, um francês e um chinês. As suas competências cobrem sobretudo os domínios da engenharia, da fisiologia e da medicina. A simulação de viagem a Marte iniciada a 3 de Junho durará até 5 de Novembro de 2011. A 8 de Fevereiro de 2011 serão simulados a chegada a Marte e o início das operações em solo marciano. De seguida, a 10 de Março de 2011, inicia-se a viagem de “regresso” à Terra.

Durante cerca de 520 dias, a “tripulação” da Mars 500 estará confinada a viver em cinco módulos onde serão testadas todas as condições de sobrevivência associadas a uma viagem de ida e volta a Marte. Durante este estudo será dada especial atenção à saúde e à capacidade de trabalho dos 6 elementos em condições de isolamento hermético, confinados a um volume limitado em que serão simuladas especificidades inerentes a voos inter-planetários, como: autonomia de decisão da tripulação em relação a um centro de comando terrestre, recursos limitados ou instabilidade e atraso nas comunicações com a Terra. Este atraso pode ser da ordem de alguns segundos a alguns minutos, dado que as ondas rádio utilizadas nas comunicações entre Terra e Marte propagam-se à velocidade da luz. No final deste estudo será avaliada a possibilidade real de realizar uma viagem tripulada a Marte tendo em conta o conjunto de adversidades fisiológicas e psicológicas registadas. Recorde-se que outras simulações anteriores de isolamento humano (Biosfera I e II) resultaram em graves problemas relacionais entre os intervenientes. A experiência Mars 500 será também importante para determinar o nível de equipamento essencial para as naves espaciais que transportarão uma futura tripulação ao planeta Marte.

O interesse dos voos inter-planetários tripulados deve-se à maior capacidade dos seres humanos para estudar a superfície de um planeta quando comparada com o reduzido número de funções que os mais dispendiosos robots actuais são capazes de realizar. Como tem sido hábito desde o início da exploração espacial, espera-se também que novas tecnologias e novas ideias resultantes desta experiência possam ter um impacto positivo no nosso quotidiano na Terra em domínios tão diferentes como a medicina ou a engenharia. Consultar este sítio da NASAsobre o impacto da tecnologia espacial no quotidiano.

sexta-feira, junho 04, 2010

Endividar-se é tão fácil como jogar à bola

Por estes dias, a banca, o sector que mais responsabilidades tem nesta crise, inunda-nos de publicidade alusiva ao Campeonato do Mundo de Futebol para nos vender a mesma banha da cobra, mas desta vez bem mais cara e embrulhada na camisola da selecção. Vamos todos abrir contas com a mesma facilidade com que o Ronaldo dá toques na bola, embora essas contas comportem despesas correntes mais caras sem qualquer justificação. Vamos todos comprar carro, casa, tralha para a casa e obviamente receber o ordenado meses antes de ser pago, tudo isto com a mesma facilidade com que o Nani dá cambalhotas após cada golo, embora com juros mais altos...
As ilusões e o facilitismo que a banca tem vendido aos seus clientes nas últimas décadas continuam presentes na publicidade sem qualquer decoro, desta vez num clima de cinismo completo. O mesmo contribuinte que já está a pagar através dos seus impostos os roubos perpetrados pelo sector financeiro está a ser aliciado pelos bancos (muito poupados pelas medidas restritivas) a continuar a endividar-se, mas desta vez a preços bem mais elevados. É um conceito interessante em que se pede ao cidadão que pague para poder ser roubado pela segunda vez e se concede uma espécie de amnistia a quem rouba.

quarta-feira, junho 02, 2010

Porque não votarei Manuel Alegre

Não gosto daquele anti-europeísmo mal informado e desinformador de Manuel Alegre, parafraseando Mário Soares, considero que "se a esquerda não é europeia não é nada". No presente cenário de crise (financeira, ambiental e energética) é essencial um presidente que saiba ler correctamente a situação internacional, uma personalidade que não esteja enclausurada na sua capelinha, muito distraída com trocas de maldades entre colegas de partido. Duvido que Manuel Alegre tenha uma percepção clara do poder que goza hoje o sistema financeiro global sobre os estados. E tenho a certeza que Manuel Alegre não percebe a importância de organizações internacionais como a ONU no combate à pobreza, à fome, ao aquecimento global, aos conflitos étnicos e à violência sobre as mulheres. Como uma boa parte do trabalho de um presidente da república passa pela relação de Portugal com o mundo, considero Manuel Alegre muito mal preparado para esse tipo de funções, ao contrário de Fernando Nobre. Um país que tem cerca de 5 milhões de emigrantes espalhados pelo mundo não se pode dar ao luxo de ter um presidente refractário à diplomacia internacional e às instituições internacionais. Além disso, a Europa já tem suficientes figurinhas que boicotam constantemente as instituições internacionais para proteger interesses partidários mesquinhos, para proteger fundamentalismos religiosos e para minar o projecto europeu em favor da extrema-direita americana, como o presidente checo ou o primeiro-ministro britânico. Seria triste se Alegre alinhasse com semelhantes personagens.

Se estas razões não bastassem, não gosto ainda daquele republicanismo vetusto a cheirar a Primeira República, aquele discurso de Chevènement à portuguesa de cariz conservador relativamente às opções sexuais e à prostituição e de cariz patrioteiro relativamente à nossa história.