sexta-feira, janeiro 28, 2011

Cavaco deve demitir-se

A primeira decisão de Cavaco Silva como presidente da república reeleito deveria ser declarar a sua própria demissão. As novas revelações feitas sobre a sua casa de férias são demasiado graves para serem branqueadas pela sua recente eleição. Já não são apenas as ligações de amizade entre Cavaco e a maior quadrilha deste país, não são apenas os lucros de 140%, agora é aldrabice da pura e dura.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

2010 é ano mais quente de sempre

(publicado no portal Esquerda.net)

O ano de 2010, juntamente com 2005, registou uma temperatura média global (temperatura continental e oceânica) de 0,62ºC acima da média de temperaturas do século XX. Na tabela abaixo pode-se verificar que 2010 e 2005 são os anos mais quentes desde que se regista a temperatura global, desde 1880. A mesma tabela mostra que entre os 10 anos mais quentes registados, nove ocorreram durante os últimos dez anos: 2001 a 2007, 2009 e 2010. A anomalia representa em quanto a temperatura média do respectivo ano ultrapassou a média de temperaturas do século XX.

Apesar destes serem dados preliminares, sendo passíveis de pequenas correcções, é evidente que na década anterior se acentuou consideravelmente o aquecimento global e, perante os dados de 2010, essa tendência poderá manter-se na actual década. O facto de o Sol ter passado recentemente por um mínimo de actividade relativamente longo só reforça a gravidade do aumento de temperatura registado.

No seu relatório de 2010, os cientistas do NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) chamam a atenção para a influência na temperatura e na precipitação global do fenómeno climático La Niña, especialmente forte no final de 2010. Mas, numa tabela onde se registam os 10 fenómenos climáticos mais importantes do ano, a NOAA considerou a vaga de fogos na Rússia e as inundações no Paquistão como os acontecimentos mais significativos.

Se a clareza destes dados não forem suficientemente fortes para convencer os líderes europeus, americanos e chineses a mudar a lógica de desenvolvimento, ficaremos certamente entregues à arbitrariedade de acontecimentos climáticos catastróficos, até finalmente a classe política tomar medidas adequadas.


10 anos mais quentes desde que há registo
Anos mais quentes Anomalia (ºC)
2010 0,62
2005 0,62
1998 0,60
2003 0,58
2002 0,58
2009 0,56
2006 0,56
2007 0,55
2004 0,54
2001 0,52


domingo, janeiro 23, 2011

Continuar a questionar Cavaco Silva

A vitória de Cavaco Silva é inquestionável.
Já as práticas relativas aos lucros no BPN e à permuta de casas são muito questionáveis e continuarão a ser questionadas. São assim as regras da democracia.
A questão do BPN está na génese das ilegalidades financeiras que contribuíram fortemente para esta crise, que geraram desemprego e destruíram muitas vidas, não é propriamente uma questão que se oculte com a fumaça efémera do triunfalismo eleitoral. À falta de uma explicação plausível do Presidente reeleito fica cada vez mais claro que este cedeu ao lucro fácil sem medir as consequências do seu acto e que considera ideologicamente aceitável a organização actual do sistema financeiro.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

A bater no muro

(publicado no O Figueirense de 14/01/2011)
O orçamento apresentado pelo executivo camarário é o orçamento de uma autarquia a bater no muro. Com cerca de 80 milhões de euros em dívida, as soluções que se apresentavam ao executivo oscilavam entre o mau e o muito mau. A principal solução deste orçamento consiste num empréstimo de 31 milhões de euros para pagamento de dívidas a terceiros. Na prática esta operação transfere a dívida para a banca e adia a sua liquidação para 2023, acrescida de 6,5% de juros. Serão sobretudo os figueirenses mais jovens quem vai sofrer as consequências desta decisão.

No momento em que vamos começar a pagar a sério a factura dos exageros do passado, os figueirenses devem estar conscientes que esses exageros se estendem até aos tempos em que a dispendiosa agenda política de Santana Lopes se cruzou com os destinos do município. O tempo das cigarras acabou. Sabíamos que estes iriam ser tempos difíceis para a Figueira, espero por isso que o actual presidente, por pressões internas ou externas, não se sinta na obrigação de apresentar uma obra simbólica do seu mandato, um mamarracho de betão ou uma paisagem subtropical artificial. De obras inúteis e efémeras a Figueira já teve a sua dose.

A equação é quase impossível. Sem margem para investimento, é necessário criar dinamismo económico e garantir a protecção social. Por isso, admitindo que a solução do empréstimo é a menos má e dado o avultado lucro que este representa para a banca, não teria sido possível negociar contrapartidas totalmente legítimas para os figueirenses? Não se poderia ter negociado o recurso ao crédito ou micro-crédito em condições mais favoráveis para investidores individuais, comércio, pequenas empresas, espaços culturais e educacionais do nosso concelho? A estagnação do investimento camarário poderia ser compensada desta forma, facilitando a criação de novos negócios e por conseguinte a criação de emprego. Em tempos difíceis, seria uma pequena grande ajuda para quem pretende abrir ou renovar um café, uma papelaria, uma banca num mercado, um infantário ou uma associação cultural e recreativa em qualquer freguesia do nosso concelho.
Infelizmente, a história repete-se e a banca mais uma vez fica a ganhar. Desta vez será à custa dos figueirenses mais jovens, quando a função da banca deveria ser a de ajudar a financiar o futuro dos jovens.

terça-feira, janeiro 18, 2011

Falta de Chá II

O Nobel Paul Krugman assina este excelente artigo sobre o discurso de ódio e de violência contra os representantes políticos eleitos na América.
Na minha recente estadia nos EUA tive oportunidade de constatar esse discurso violento, recordo um esbracejar ameaçador de um comentador da FOX, que achava que os políticos eleitos deveriam deixar outros (leia-se banqueiros, especuladores, líderes religiosos fanáticos, etc.) governar. Recordo também a profunda violência dos discursos (discursos muito políticos) de pastores das mais de 75% de rádios religiosas que inundavam o meu rádio no estado do Tennessee.

Foto sacada algures entre Knoxville e Chattanooga, Novembro 2010.

domingo, janeiro 16, 2011

Abdelwahab Meddeb sobre a Tunísia

Abdelwahab Meddeb é um intelectual tunisino refugiado em França que se tem batido contra a ditadura de Ben Ali, contra a xenofobia europeia e contra o islamismo. Gosto das suas intervenções, sempre fundamentadas, corajosas, muito na linha daquela coragem tranquila de Luther King. As suas últimas intervenções, algumas horas antes da fuga do presidente Ben Ali, nas entrevistas à Ouest-France aqui e à France Inter:



terça-feira, janeiro 11, 2011

Bom demais para ser verdade Sr. Presidente

Os lucros de 140% obtidos por Cavaco na venda de acções do BPN em apenas dois anos estão bem acima da média dos lucros dos investidores de Bernard Madoff. Para atrair novos investidores Madoff gabava-se em festas de ricos de ter obtido retornos de 18% para os seus melhores clientes. Se há alguma coisa que a leitura de "Too Good To Be True" de Erin Arvelund revela é que a fraude de Madoff foi possível e tomou a dimensão que tomou porque os clientes nunca questionaram os métodos empregados para obter tamanhos lucros. Quem tinha uma formação mínima em economia sabia que aquilo era bom demais para ser verdade e foi essa linha que definiu o que era credível do que era uma fantasia financeira, que distinguiu entre os economistas, investidores e analistas honestos, os que se recusaram a aprovar o negócio de Madoff, e todos os desonestos que foram cúmplices da fraude.

Cavaco é um economista. Sabe muito bem que um lucro de 140% em dois anos (ou mesmo em quatro) requer uma justificação muito forte para ser credível. Aliás foi o próprio Cavaco que em 1987 utilizou a expressão "gato por lebre" para classificar lucros estratosféricos da bolsa de Lisboa que resultaram no maior crash da bolsa nacional até então. A única fuga possível de Cavaco na entrevista de ontem foi dizer que não sabia quanto tinha ganho. O que contradiz as palavras que profere logo a seguir quando se classifica de "muito rigoroso" e de "mísero professor". Se é tão rigoroso não sabe que ganhou 140% num investimento? Não sabe quanto investe? Que rigor é esse? Um "mísero professor" (de economia) não se interessa por um investimento que dá 140%? Então para que investe? Um mísero qualquer interessa-se por um investimento que dá 140% nem que sejam 10€, o mísero ganha 24€, não despreza ganhos desta ordem.

Se há alguma coisa verdadeiramente honesta a concluir é que Cavaco não foi honesto. Não violou nenhuma lei, mas não foi honesto com a economia e nem sequer foi honesto com a sua própria ideologia política. A sua linha política, uma democracia-cristã conservadora, também desaprova este tipo de práticas. Cavaco foi cúmplice de uma onda de xico-espertismo que teve consequências nefastas na nossa economia, que produziu desemprego e prejuízos de milhares de milhões de euros. Os portugueses devem por isso sancioná-lo nas urnas.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

A pulseira do desequilíbrio

À atenção dos fãs de astrologia, niilistas do aquecimento global e do darwinismo

A empresa Power Balance reconheceu (ou foi forçada a reconhecer) anunciar benefícios para a saúde atribuídos à utilização chamada pulseira do equilíbrio que não estão provados cientificamente. A empresa informa que quem quiser devolver a pulseira do equilíbrio será reembolsado. No entanto, os masoquistas não foram esquecidos, a pulseira continua à venda no sítio da Power Balance ao módico preço de 46€ (60 dólares australianos).

domingo, janeiro 09, 2011

Centrais nucleares de terceira geração mais caras que previsto

(publicado no portal esquerda.net)

A TVO, a fornecedora nacional de electricidade da Finlândia, comunicou recentemente que a construção do seu novo reactor nuclear sofreu um novo atraso superior a um ano. Este reactor designado de terceira geração, trata-se do EPR (European Pressurised Reactor/Evolutionary Power Reactor) da empresa francesa Areva em construção em Olkiluoto, no sudoeste da Finlândia. A construção do EPR foi iniciada em 2005 com o compromisso de estar terminado em 2009. Desde então, sucessivos atrasos elevaram a factura inicial de 3 mil milhões de euros (um preço chave na mão estabelecido entre a TVO e a Areva) para 5,7 mil milhões de euros. Depois da derrapagem de custos, a TVO entrou em conflito com a Areva e pede o reembolso da diferença de 2,7 mil milhões de euros.

Existem apenas quatro reactores deste tipo correntemente em construção: dois na China, um na Finlândia e outro em França. A construção dos dois reactores chineses iniciou-se há poucos meses, pelo que não há informação sobre eventuais derrapagens de custos. A construção do reactor francês, tal como o finlandês, tem sofrido atrasos e aumentos de custo bem superiores ao inicialmente estimado.

O EPR deverá ser o mais potente reactor nuclear do mundo, com uma potência de cerca de 1650 MW, mas é também o reactor mais caro concebido até hoje. Este tipo de reactores tem sido publicitado como o mais seguro do mundo, capaz de resistir ao embate de um avião de linha. No entanto, o EPR nunca foi testado, a unidade finlandesa será a primeira a entrar em funcionamento. O combustível utilizado nestes reactores é designado por MOX (Mélange d’OXides), uma liga constituída por óxidos de urânio e de plutónio. A utilização do MOX apresenta a vantagem de reciclar o plutónio proveniente de armamento nuclear e de aumentar a concentração de material físsil do combustível utilizado nos reactores. No entanto, é um combustível mais caro que o combustível utilizado nas centrais nucleares de anteriores gerações e para o qual ainda não foi encontrada uma solução de tratamento e armazenamento depois de utilizado.

Foi este tipo de reactores que foi proposto há cerca de cinco anos como uma solução energética mais barata para Portugal pelo grupo de pressão liderado por Patrick Monteiro de Barros.

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Aprender espanhol, desaprender línguas

O espaço reservado às línguas estrangeiras do boletim de inscrição para agente da PVDE (mais tarde PIDE) foi preenchido por Rosa Casaco da seguinte forma: português, espanhol e brasileiro. "Eu era muito desenrascado" foi a forma como justificou o acto posteriormente.

Concordo com a Inês Pedrosa (Revista Ler, Novembro, pag. 85), acho uma aberração aprender espanhol no secundário. Obviamente, excluindo quem segue uma via literária ou um curso superior de espanhol. A forma avassaladora como o francês e o alemão têm vindo a ser substituídos como segunda língua pelo espanhol está a destruir o que de positivo foi conseguido com a introdução do inglês nos primeiros anos do curriculum escolar. Depois de gerações que praticamente não falavam uma única língua estrangeira, produzimos e muito bem desde o 25 de Abril gerações que dominam razoavelmente bem uma língua (mais inglês, francês eram menos) e que se desenrascam, pelos menos na leitura, numa segunda língua (francês e alemão). Depois das minhas experiências no estrangeiro garanto-vos que em matéria línguas estamos acima da média europeia. Actualmente, ao lançarmos uma nova geração que aprende espanhol no secundário, invertemos o rumo para os tempos de Rosa Casaco. Entre três anos a aprender espanhol, "brasileiro" ou lisboês a diferença não é muita.

O espanhol é uma língua interessante e rica, mas francamente, é uma língua que sai nos pacotes de nestum. Na minha área é até negativo enviar um CV onde o espanhol figure entre as línguas estrangeiras (excepto no caso de ex-residentes em países de língua espanhola e no caso estudos superiores em espanhol). Qualquer troca-tintas aprende espanhol se for preciso. É por isso lamentável que em plena era de globalização onde outras línguas ganham uma enorme importância em vez de no secundário acrescentarmos ao francês e ao alemão outras línguas como o chinês ou o russo, se atrofie o ensino ao espanhol.

PS- Acho lamentável num país latino o ensino do latim não ser obrigatório no secundário. Pelo menos dois anos.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

Sovaqueira de astronauta

Este artigo Steve Mirsky sobre as actividades menos nobres dos astronautas a bordo de naves espaciais, revela-nos um ambiente fétido que tresanda a suor, onde as necessidades fisiológicas requerem algum nível de perícia e um estômago de ferro. Enfim uma última prova para super-homens (e super-mulheres) seleccionados depois de dezenas de rigorosos testes físicos e psicológicos.

James Lovell, um dos heróis da Apollo 13, ao sair da sua cápsula recuperada em pleno oceano foi questionado sobre o que sentiu durante a atribulada missão lunar, tendo respondido diplomaticamente que foram sensações bem diferentes da fresca brisa do mar que percorria o ar. Mais tarde referiu que sentiu como se tivesse vivido uma semana dentro de uma casa de banho.

terça-feira, janeiro 04, 2011

Eclipse entre nuvens



Hoje ainda vi menos do eclipse do que isto. Noutros tempos poderia dar direito a cortar o pescoço ao astrónomo (e/ou astrólogo) de serviço.

sábado, janeiro 01, 2011

10 olhares sobre a Europa

A Presseurop desafiou 10 intelectuais europeus a escrever sobre a Europa. A crónica do Gonçalo M. Tavares é deliciosa, no seu habitual estilo irónico. Obviamente que a interessante ideia de confusão do signo com a coisa deve-se mais a um seguidismo da Europa ao outro lado do Atlântico, mas não deixa de ser uma interpretação certeira de uma das facetas da crise. O exemplo do sector imobiliário - o terreno ou o apartamento cujo valor multiplica 10 ou por 20 depois de mudar várias vezes de mãos - seria melhor ilustração da ideia do Gonçalo Tavares.

Destaco:
"A já velha separação entre o signo e a coisa. A célebre frase “a palavra CÃO não morde”: se pusermos os dedos no C no A ou no O não corremos qualquer risco, os nossos dedos ficarão intactos, o C e o A não mordem – velha lição de linguística. E foi esta separação que inaugurou a modernidade. Os primitivos não acreditavam nisso, não acreditavam em dois mundos separados. Para os primitivos o signo era já uma coisa. O desenho de veado não era o desenho de um veado, era o veado. Não havia diferença.

De certa maneira, a Europa – desde há décadas – que acentuou o seu lado primitivo. Voltou a acreditar na magia. Quase toda a economia está hoje instalada no mundo abstrato, no mundo das letras e dos números – e não no mundo das matérias com volume. Porque a velha economia era isto: duas vacas que se trocavam por mil galinhas; fábricas e máquinas, árvores que se vendiam ou compravam. Pouco a pouco, no entanto, os elementos vivos e os metros quadrados foram desaparecendo de cena. Ficaram papéis com signos e números e a Europa transformou-se assim num Novo Continente Primitivo, em que as pessoas assumem comportamentos idênticos aos das tribos da Amazónia que confundiam signos com o real e acreditavam que a letra A ou um desenho os podia esmagar ou amaldiçoar
"