sexta-feira, agosto 12, 2011

Pertencer à mesma equipa



Em "To the Castle and Back", Vaclav Havel critica uma despropositada carga da polícia checa sobre jovens manifestantes, num episódio ocorrido já depois do fim da era comunista. Havel lamenta-se que aquela intervenção teve como principal resultado cavar um fosso entre o estado e os jovens, separando-os, fazendo com que uns e outros não sintam que pertencem à mesma equipa.

Conheço mal Londres, mas quando estive em Birmingham foi para mim muito claro que os seus habitantes já não pertenciam à mesma equipa. Já havia gente de costas voltadas, havia o nós e os outros, a fazer lembrar o divórcio entre as cités e a sociedade francesa. A diferença é que em França os guetos foram criados por decreto no tempo de Pompidou e no Reino Unido foi a mão invisível que foi empurrando gente desempregada, gente em situação precária, com os mesmos problemas, para os mesmos bairros.

Depois acabar com os bairros da lata, o próximo passo da Europa deverá ser acabar com os guetos. Misturar ricos e pobres, cultos e menos escolarizados, imigrantes e autóctones, fazer-lhes sentir que as cidades pertencem a todos e que são um espaço de partilha.

segunda-feira, agosto 01, 2011

Houellebecq, Beigbeder e Angot

Michel Houellebecq, Frédéric Beigbeder e Christine Angot cruzam-se nos livros um dos outros em registos autoficcionais com estilos muito diversos. Raramente são simpáticos uns com os outros. Ao ler "La carte et le territoire", o prémio Goncourt de 2011 constatei que involuntariamente os três escritores formam uma cadeia literária viva que caracteriza uma certa Paris e uma certa França actuais. Os três escritores conseguem encaixar a aparente futilidade e banalidade dos gestos e dos hábitos quotidianos numa escrita inteligente, mas sem super-heróis. Beigbeder é um barómetro das discotecas e da vida mundana, Angot descreve-nos a suas idas ao quiosque e Houellebecq não hesita em partilhar os suas aventuras através de estradas bordejadas das distracções modernas.

Tal como refere o José Mário Silva numa das últimas edições da revista Ler, falta na literatura portuguesa quem se atreva a descrever as vivências do quotidiano, os cafés que frequentam, os jornais que lêem ou fazendo saltar para o meio das páginas personagens reais com quem se cruza no autocarro e na farmácia. Falta sobretudo um Beigbeder. Não é por isso de estranhar que este autor (tal como Angot) não tenham obra publicada em Portugal.